segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sexagésima noite – Três histórias de Loba – Amanda e Carlos

[Essas são as histórias que Gilberte e Marcelo se contam, pela Internet, à noite. Gilberte, mãe de um filho deficiente. Marcelo, um explorador em um barco na Antártida. Se quiser melhor entender leia o capítulo um, 01/01/2016].

---- > {Marcelo] Como está seu filho?

- > Dorme, agora. Não é que nossas histórias chegaram ao terceiro mês??

---- > Agora quem pede sou eu. Conte-me histórias daquilo.

- > Bobo. Como está o clima na Antártica?

---- > Nove graus, brisa moderada, 8 metros por segundo do oeste-noroeste.

- > Brrr.

---- > Quem conta agora é você. Três em seguida.

- > Vamos lá. Que quer ouvir?

---- > Que tal moças a lamberem o sorvete umas das outras?

- > Aha, garotos, sempre iguais. Prefiro pensar em três histórias de mulheres-de-40.

---- > Agita!

- > “Imagino uma mulher chamada, digamos, Amanda. Amanda tem 42 anos, 3 meses e 5 dias, quase exatas duas décadas a mais que Carlos Roberto. Amanda jogou seu vestido violeta para o espaço e neste momento faz do jovem Carlos Roberto o seu cavalo. O falo plastificado do rapaz desaparece das vistas do mundo enquanto a mulher desce com cuidado de acoplagem de satélite sobre ele.

Amanda roça os bicos escuros na ponta do nariz do garoto, que, ansioso, os engole, e Amanda aguenta a pontinha de dor. Os movimentos continuam e as estocadas já passam de cem, se um dos dois se desse ao trabalho de contar estocadas.

Amanda apesar do nome não ama Carlos Roberto. Quer usar o corpo até então virgem do rapaz. Nova gata, passeia por cima dele e o sufoca quase a lhe amassar o nariz entre as coxas. O pobre Carlos Roberto não está no meio do mar, mas uma onda de umidade lhe cobre a cara enquanto Amanda revira os olhos para o teto!” Que tal essa?

---- > Cruel. Me conta outra.

- > Amanhã. 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-nona noite – Um instante de ousadia

Pessoas comuns até nos nomes, o pequeno mundo de Marilene e José Roberto teve um choque quando a filha anunciou que faria o mestrado em outra metrópole – e sabiam que, mais que excelência acadêmica, a única e querida almejava na verdade viver junto com o namorado [leia-se dormir com ele].

Primeiro o choque de saber que seu anjinho não era mais anjinho. Depois, a falta dela nas bobagens do dia a dia. E depois depois a descoberta de que as quatro ou cinco décadas de vida não tinham tudo estragado - Marilene e José Roberto eram decididamente bem passáveis. E decidiram viver o que não fizeram aos vinte.

E descobriram as delicias do amor físico com mais de dois no mesmo quarto. José Roberto viu o suave corpo da esposa ser penetrado por rígidos falos de conhecidos de amigos – enquanto, cavalheiro que era, retribuía o favor nas esposas dos mesmos.

E durante muito tempo Marilene repassou a cena naquela noite de 28 de fevereiro – a pensar e repensar se real sem chegar a conclusão definitiva. Eles e um cara, já indicado por outro casal. José Roberto contemplava o potencial do felizardo – nada demais. Então o rapaz mirou o teto e fez suspiro de gato quando o marido de Marilene engoliu-lhe o falo. A esposa deu dois passos adiante para confirmar se via mesmo – e os olhos do casal se sorriram, José Roberto com metade do instrumento do amigo na boa. O rapaz gemeu três vezes, e a mão de Marilene leve no pescoço do marido o incentivou a terminar sussurrando engole - e um par de movimentos no pomo-de-adão vieram em obediência.

Cinquenta minutos depois, em casa – ele com a programação de TV na mão anunciou que ia ter reprise de O Poderoso Chefão II! Viram, mas ela não conseguiu se concentrar nas estripulias de Dom Corleone.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-oitava noite - Johann fez as malas

E Johann Wolfgang von Goethe fez as malas! Decepcionado com a poesia, com a neve, com o mundo e consigo, tomou alazões e carroças para o Sul. [Se fosse melhor informado, chegaria ao Brasil]. Parou na Itália. Descobriu que o sol existia – um solzinho europeu-pálido, mas sol de qualquer forma. E descobriu Faustina.

Dela só soube os vinte e dois anos e os olhos pretos e os cabelos pretos em duas tranças pretas que se lhe iam até os pés. E Wolfgang só lhe disse que tinha trinta e nove anos e o tédio do mundo o fizera começar três bilhetes de suicídio.

Com Faustina vieram Petrarca, Nausicaa e fantasmas da Odisseia, que lhe cantaram novos versos de seis sílabas que Goethe marcava dando pancadinhas nas costas de Faustina, o papel sobre suas costas de seda [os seios de Faustina a beijar o lençol], depois de amá-la inteira, inversa, frente e costas. E o calor de sua respiração, que entrava em seu corpo, misturava-se com a dele, transformando os dois amantes em versos na velha e nova forma homérica.

Em um começo de manhã [a pele quase rosa das orelhas de Faustina] o ainda-quase-jovem Johann [a expectativa a roer-lhe] decidiu que de todos os demônios [e de todos os caminhos – sendo isso quase a mesma coisa] preferia o da busca da fama. Algo estúpido [ser lembrado quando já túmulo], mas isso ele o queria. Faustina [a doce Faustina] quedaria na Itália e na lembrança – dos cabelos, das manhãs e dos versos de seis sílabas.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-sétima noite – Penetrei Ana Vitória

Penetrei a vagina de Ana Vitória vinte e nove anos, um mês e dezessete dias depois do dia em que ela nascera, entre as cinco e quarenta e cinco e quarenta e cinco minutos de uma tarde úmida de um dia 26 de fevereiro, chuvinha a cair lá fora. Esmerei-me antes em fazer caírem em sua devida ordem a saia azul-marinho, a blusa bege e terminei por um par de brincos meio-dourados, pois eu decidira que a jovem Ana Vitória merecia ser penetrada completamente nua.

Penetrei Ana Vitória conservadoramente – cavalheiro por cima, dama por baixo, a dama afastando as coxas a tentar abarcar com elas o universo e o continente. Mergulhei meu nariz nos cabelos encaracolados com um suave doce de cânfora, a sentir a ponta de seus dedos me tocarem a cintura como que a desenhar um ideograma em mandarim.

 Ana Vitória revelou-se uma dama – é fácil ser dama com um Dior longo, difícil é sê-lo nua. E Ana Vitória revelou-se à altura de tal desafio – suave serpente, ondulou-se na medida certa e pronunciou com admirável timing a quantidade exata de palavrões – pois só mulheres vulgares amam fisicamente em silêncio.

Novo explorador, quis entender profundamente o enigma dessa jovem mulher chamada Ana Vitória – e para tanto entrei com inteireza [em todos os sentidos da palavra] e deixei-me lá quedar por infinitos minutos, enquanto Ana Vitória me envolvia ritmadamente de calor e umidade.

Penetrei uma jovem chamada Ana Vitória ao som do Coración Partio de Alejandro Saenz – não a melhor da escolhas mas Ana Vitória foi a sua própria trilha musical.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-sexta noite – Vingança

Fernando sempre me enchia: Amor, deixa eu transar com ouuuuutra. E eu queria também. Curiosidade, hiperconfiança de ego, algo sei lá assim. O problema era, quem. Me bateu idéia: Ana Lúcia.

Sempre fora a galinhazinha oficial do Stella Vespertina, os garotos todos a dizerem que a tinham comido e um quinto devia dizer a verdade, o que já era muito. Desempoeirei caderno de telefones, mesmo número, combinamos café no bistrô do Carrefour.

Ele me contou de casos com ex-chefes e que acabara de despachar o ginecologista, a mulher dele já desconfiava e com razão. Ana Lúcia, a mesma.

Disse a Fernando, Arranjei uma, e ele explodiu de alegria. Fiquei feliz com a felicidade dele.

A minha própria é que diminuiu quando deixou de ser sonho e virou osso e carne, nós três no New York, Ana Lúcia de saia tão mini que logo vi que sua calcinha era azul. Tirou sapato-de-saltão, pulou na cama redonda e improvisou strip, eu incomodada com aquele saimento todo. Queria que fizessem logo e tchau.

Revelou sonho: que eu encaminhasse o falo para o lugar certo. Fiz a cabeça desaparecer na fenda entre a floresta preta, eu fumegando de raiva e a mulher uivando Oh Oh! Ela no êxtase, perguntei várias vezes se ela era e usei vários sinônimos vulgares para a palavra Prostituta e ela a ponto de gozar dizendo que era, era sim. Foi minha vingança.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-quinta noite – Desistir nunca, render-se jamais

Naquela noite de fevereiro [beira da piscina no hotel na beira da praia] sabia eu de duas coisas: uma, não sou uma anjinha; duas, aquele barman era um gato. Gato, gato, tigre, rosnante, leão [antebraços tatuados e cabeça comprida de ator de Ruliúde] e mais felino ficava a cada dedo de coquetel Alexander com vodca que eu entornava.

Aliás sabia eu de uma terceira coisa: a convenção iria se dispersar e 24 horas depois eu estaria a um par de milhares de quilômetros dali [o cara a sorrir]. Os diabinhos do amor [e que raio amor tem a ver com isso] esvaziaram o local e ficamos ali, eu e o felino e um providencial quartinho nos fundos do bar.

Envolvi na mão uma garrafa de Eisenbahn, e passava as mãos nela, cima a baixo, de forma que a pobre garrafa teria crescido se não fosse de vidro. O cara entendeu [pudera, não??].

Bom poucos segundos depois eu visitava o quartinho, o rapagão a fechar a porta atrás de mim [um gentleman] – e o barulho da embalagem rasgada da camisinha a me dar a única garantia que precisava. Apoiei-me na mesinha, levantei a midissaia e preparei-me para o impacto.

Quando achei que esse demorava, veio de uma vez [o carinha teve de me tapar a boca para evitar que eu anunciasse ao hotel inteiro]. Esperava um Corsa, veio um 4x4 Utilitário Esportivo de 99 cavalos. O cara segurava pela cintura e trabalhava com ritmo de cronômetro – e em tal atividade não demonstrava vestígios de dó. Pensei em pedir água, mas me veio uma velha frase Desistir nunca, render-se jamais. Não vão louvar minha bravura??

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-quarta noite – Não existe amante bonita

Não existe amante bonita. Nem feia. Amantes [na verdade] não têm estética. [Amantes são]. Ou melhor, sua estética é diferente de qualquer outra, de Da Vinci a Mondrian. A beleza da amante flui dos olhos meio fechados a mostrar os brancos e dos lábios entreabertos [às vezes com um doce fio a deles escorrer].

Não existe amante ridícula. Amantes [novas ginastas] escancaram as coxas e fazem entre elas surgir um traço rosado, abrem-no com as mãos a metamorfoseá-lo em caverna, ficam de quatro, arrebitam, arrebentam, estalam a língua. E tudo isso seria grotesco em qualquer outra criatura – mas na amante veste auras de sublime.

Não existe amante sem classe. À amante são lícitas todas as palavras, preferência feita às de calão mais fundo, reputadas de estivador ou garimpeiro – amante conhece todas as alusões mais porcas e os vocábulos mais vis. Ao contrário de mim e de ti [cuja respeitabilidade se encontra nas palavras] a amante visita os cantos mais escuros do dicionário sem ninguém a precisar ensiná-la.

Não existe amante experiente. Nem virgem. Amantes [ao contrário de nós reles comuns] não têm passado. Para quem ama a amante [no sentido que uma amante dá ao verbo amar] inexistem os ordinais – primeiro, segundo, décimo-quinto. Presente perpétuo, momento perfeito que se esgota em sai mesmo, amantes são, apenas.

Não existe amante que que queira - alguém que não seja ela mesma no outro. Amantes não te amam – amam a si mesmas em ti.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-terceira noite – Transa dos outros

Sempre tive carinha inocente. Um par de olhos parecendo Cocker spaniel e uns cabelos mais-para-pretos encaracolados faz com que as pessoas olhem para mim e pensem: boa menina. Isso me causa uns problemas com donos de oficinas de carros e loja de produtos de informática: acham que minha carinha significa ser fácil de levar no bico, e impulsionam os preços lá para cima quando o serviço é para mim.

Mas também me trouxe umas vantagens, até curiosas: todo carinha que eu encontro para uma noite legal pensa que é o primeiro. É engraçado vê-los, a puxar minha calcinha com lentidão geológica, como se fossem me machucar (quáquá!).

Lia e Marcelo me trouxeram [no entanto] a maior dessas vantagens. Mal os conhecia – amigos de amigos, e sabendo que eu estava sem namorado, convidaram-se a um par de Passchedaeles de malte purésimo.

Meus novos amigos a esponjar cada vez mais a cerveja belga e eu a gostar cada vez menos [ou mais] da cara que faziam. Em um momento achei que tramavam alguma, e no momento seguinte achei que essa trama envolvia a mim. Lia aproveitou uma saída do namorado e me disse, com um doce odor de álcool: Sempre quis ter plateia. Pensei, why not?

Trinta e cinco minutos depois a camona de um  ridículo rosa-choque no motel da BR emoldurava os corpos já completamente à vontade dos meus dois amiguinhos. No primeiro meio minuto olhavam ansiosos para mim, depois minha presença se tornou oficialmente olvidada.

Eu [vestidíssima, boa garota] ouvia os gritos de Lia por baixo do cara musculoso, o triplo da massa dela. Uma experiência bem agradável, e bem rara ao vivo, ser plateia da transa dos outros.

E tudo por minha carinha inocente.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-segunda noite – Lutinha erótica

Lutinha erótica entre amigas e não começou como uma. Heloísa, cabelos mais-para-negro e longos, secura de oito meses depois da separação. E Teresa, alourada, solteiríssima, um ano, um mês e três dias sem nada. Três garrafinhas de Eisenbahn fizeram com que a morena já no ap e antes de pensar no assunto pronunciasse as palavras mágicas Vamos ver quem é a mais forte? – e como resposta veio um par de gargalhadas e as duas rolavam na cama gigantesca.

Em muito pouco tempo restava apenas a calcinha azul-forte em Heloísa e uma tanguinha enfiada e um par de meias a cobrir o corpo de Teresa. Esta, mais alta, tentava segurar os pulsos da outra e se colocar por cima, colando as mãos de rival na cama e deixando-a à sua mercê. Como reação, Heloísa procurava encaixar Teresa entre suas coxas, apertando-a pela barriga. As risadas do começo sumiram e se ouvia apenas a respiração pesada das duas e o movimento do combate. Sem nenhuma conseguir sobrepujar a adversária e sem saber mais o que fazer, as duas se apertaram em um abraço, tanto Heloisa como Teresa com os braços nas costas da outra, os bicos escuro e maiores de Heloísa a colar rosados nos de Teresa – e nenhuma das duas lembrou ao começar que os seios das duas sofreriam – mas nenhuma queria ser a primeira a pedir paz.

Nenhuma queria, mas alguns dolorosos segundos esperando a desistência da rival, foi Heloísa quem se rendeu, para alegria da loura. Mais ainda quando Heloísa disse Homenagem à vencedora e baixou a cabeça entre as coxas da amiga. 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quinquagésima-primeira noite – No futuro

Penso em um mundo futuro, e em um mundo futuro [2099? 2457?] minhas clientes se chamariam Amjakx ou Mexroy [enfim, quem se importa com nomes futuros?]. E nesse mundo as mulheres [as donas do dinheiro, das naves espaciais e de tudo] sairiam de seus escritórios com pastas de algum material subatômico loucas para relaxar. E haveria dois tipos de homens – e eu não seria do primeiro tipo.

Eu passaria o dia todo em praias e academias, dedicado a manter aquilo que verdadeiramente importará em um homem – uma pele bronzeadéssima, um bumbum recordista de firmeza e um acima de tudo presente com muitos, muitos centímetros. Isso fará toda a diferença depois das oito da noite – na boate just for women em que eu faria ponto.

Do palco eu veria o femearal a se entupir de álcool e cigarro e a se contar piadas pesadas. No meu número eu multiplicaria gestos precisos, os poucos panos que me cobririam a cair gradativos. Eu iria mostrar e ocultar, e retardar ao infinito o momento em que a sunga negra aterrissaria ao chão – os assobios como fundo musical.

E depois sempre haveria uma [ou duas, ou sete – um rapaz precisa ganhar a vida] para a qual eu faria um espetaculozinho muito particular. E minha cliente [seria você?] me tocaria como o objeto ao qual comprou – o que estaria muito vizinho da realidade.

E depois a consumidora relaxaria [cigarro na mão] a se queixar do maridinho, em casa, sujo de ovo e de criança, a quem ama, certo, mas que não a compreende. E eu ouviria compreensivo, mas de olho no relógio para ver entrar a próxima.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quinquagésima noite – Sejamos solitários, Helena Maria

Sejamos solitários, Helena Maria, e não sejamos infelizes. Olharemos um na íris do outro e não faremos promessas, nem metade delas. Futuro [Helena Maria] para nós seja uma estranha palavra em caracteres escritos em barro de uma língua esquecida de uma civilização que nenhum arqueólogo se ocupou em desenterrar. E que a palavra agora, Helena Maria, para nós também inexista – ocupados que estaremos em vivê-la.

Fôssemos muito jovens, Helena Maria, nós nos convidaríamos para um sorvete duas bolas de baunilha e maracujá – mas não somos muito jovens. Deixaremos explícito que o interesse de cada um de nós reside entre as pernas do outro – e quanto a mim, também no que esconde o teu vaporoso e caríssimo sutiã Victoria´s.

Tu me dirás [Helena Maria] com todos os fonemas a mais doce das declarações do [inexistente] amor Eu te ofereço minha vagina e eu te concederei o mundo [talvez nem tanto o mundo] mas o suficiente para preenchê-la [plena].

Nós nos abraçaremos [Helena Maria] e um quartinho seria para nós suficiente – não porque tenhamos medo do universo mas porque ele [sem necessidade de apocalipse global] teria [de súbito] teria perdido qualquer relevância que um dia pudesse ter tido. E não somaremos tolas tecnicalidades, quantas entradas, saídas e resultados do exercício – não faremos contabilidade entre lençóis. Sairemos a cantarolar a velha canção solidão a dois, de dia faz calor, depois faz frio.

E seremos solitários, Helena Maria, e não seremos infelizes.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Quadragésima-nona noite – Velhos e não santos

Seremos velhos [Tássia] e não seremos santos. Um dia [minha querida Tássia] tu terás sessenta e cinco [e eu rodearei por uma década a mais]. Tu não serás tão diferente, nem serás a mesma. [Nós não seremos – aliás mudaremos principalmente porque teremos rasgado qualquer e todo vestígio de pudor – esse luxo dos menos-de-quarenta].

Eu te verei inteira, Tássia. O que eu não verei será o presente que te darei, pois tua boca o terá envolvido metade, rijo e a brilhar de tensão e borracha. [O presente virá acompanhado de um garotão, Tássia. De seus 30? 35? De idade, Tássia – com a centimetragem a ser ponto também forte].

Nos intervalos te consolarás [Tássia], com a tua experiente mão esquerda entre a penugem muito leve entre tuas coxas, enquanto com a direita acariciarás outra coxa [a do presente] e eu também me consolarei [como se adolescente fora, olhos colados na velha Playboy].

Tu te deixarás penetrar [minha doce Tássia] e o cara [novo lobo] uivará duas vezes para a lua. E isso espedaçará qualquer fiapo de dúvida tua – tu serás capaz de levantar um falo, Tássia, e não só o do teu homem – outro também, outros – e isso completará o teu ser mulher.

Seremos clássicos e conservadores, Tássia – o garotaço por cima, tu diligentemente por baixo, seguindo o tradicionalíssimo ritual – apenas com um diretor de cena [que serei eu] e uma protagonista que [a esta altura da carreira] desafiará a tolice de que deve entusiasmar-se apenas com chá e bolinhos. E seremos velhos, Tássia - e não seremos santos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Quadragésima-oitava noite – Coma-me selvagem

Coma-me selvagem, Túlio Marcos [cavaleiro medieval após três cruzadas, coronel de novela de sertão sobre a dançarina do Bataclan, homem das cavernas, mesmo sem clava nem dinossauros por perto].

Afaste-me as coxas, Túlio Marcos [esqueça o significado da palavra delicadeza, e amplie essa amnésia para incluir suavidade e leveza].

Não me beije, Túlio Marcos [beija quem ama, e nenhum de nós saberia o que fazer com essa coisa – talvez misturá-la no iogurte ao café da manhã].

Roce o rosto no meu, Túlio Marcos [eles se roçarão, movimento contínuo, cada um a concentrar-se na sua sensação, sensação essa que para existir precisa da presença do outro, da respiração quente e do doce cheiro de suor do outro –e esse precisar substitui qualquer noção babosa de amor – que de resto não conhecemos].

Dê-me prejuízo, Túlio Marcos [rasgue lingeries vaporosas da Victoria´s, borre batons gloss modelo novo Yves Saint-Laurent e cubra com seu cheiro o Chanel 5 comprado na Free-shop].

Faça o que acha o que deve, Túlio Marcos [mas faça, principalmente, o que acha que não deve – línguas, dedos, e palavrões, em explosão anárquica ou em metódica sucessão – não interessa como].
Não escolha lugares, Túlio Marcos [ou melhor, escolha-os – mesas fortes, corrimãos de escadas em caracol, peitoris de janelas. E pergunte minha opinião mas só depois de feito].

Use-me, Túlio Marcos [corpo, alma, emoção, raio quê – e não tenha vestígios de dó. Tão distraído estará, Túlio Marcos, que nem perceberá que uso você também].

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Quadragésima-sétima noite – Transa em Berlim

Tomo chá com bolinhos e me vem que neste exato momento há gente a fazer isso, aquilo, formas-mil. [Uma dessas vagas estatísticas por aí fala em cem milhões de transas todo dia – é muita diversão]. Imagino uma transa, digamos, em Berlim. [Em algum de bairro de nome impronunciável como Pankow ou Lützowufer].

Ele tem o inevitável e alemaníssimo nome de Hans. A gata possui o bem internacional nome de Caroline. Hans e Caroline precisam apenas de uma cama de tamanho suficiente para que possa ficar um sobre o outro; um quarto com chave; um banheirinho ao lado - onde eu os ponho, eles possuem tudo isso.

Imagino que Caroline usava uma curta saia jeans cobrindo uma incômoda calcinha-tanguíssima vermelha-vaporosa. Usava, pois a tirou frente ao amigo, sem se preocupar nem de ficar de lado. Incômoda, pois o quase-fio encarnado afundara entre suas bochechas peludamente alouradas – e Hans dilatou-se uma certa centimetragem ante o espetáculo.

Bochechas essas que as habilidosas mãos de Caroline afastaram, a amplificar uma doce caverna de paredes rosadas para – ela tranquila e tedescamente não lhe oferecia seu coração ou promessas de Hochzeit [casamento] mas um buraco.

Inclinando depois da mandatória plastificação o homem providenciou que o mesmo fosse tampado das vistas do mundo enquanto a garota suportava seu peso recitando alguma tola canção romântica de Ina Martell.

E imagino minha transa berlinense a terminar com Hans a pintar faixas brancas nos bicos rosados de Caroline – e depois a pensar bem alemãmente Sie hat mir durchgefickt a mulher me trepou-através, ou muito.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Quadragésima-sexta noite – Mete, vagabundo

- Vagabundo. Ordinário. Só serve para isso.

Ele por cima, ela embaixo. Tudo na mais rigorosíssima partitura. Ele achava que a comia. Até abrirem a porta do quarto da pousadinha. Até ele se deitar em cima – com um medo [talvez ingênuo] de machucá-la. Ela disparou à queima-roupa uma rajada de palavras.

- Mete, cachorro. Soca, pedaço de lixo.

E deu-lhe uma chave de pernas que dariam a ele trabalho de se livrar – e os olhos reviravam quase como filme de terror de terceira [ele sem ter nada a ver pensou]. A cada segundo que ele perigava perder a concentração ela lhe estapeava a coxa nua.

- Vai, seu puto. Não para.

O rapaz continuou o trabalho e o falo a entrar e sair da faixa perfeitamente negra entre as coxas da mulher lhe deu a impressão de que tirando aquele pedaço dele, o resto era inútil ali – exceto talvez a dupla pequena redondeza entre suas coxas, cujo choque ritmado contra o corpo dela também era pela mulher celebrado.

- Não vale nada, seu gigolô. Pedaço de estrume. Mais duro.

Sentiu-se quase estúpido por se achar insultado. Tinha vontade de reparar seu orgulho dizendo que era muito mais que um corpo, e mais ainda que um pedaço de carne em forma crescível e alongada para provocar prazer a ela: era um jovem trabalhador que de vez em quando até arranhava um violão.

Era o que pensou. Mas continuou a fazer o trabalho dele requerido. Ela lhe estapeou de novo a coxa.

- Mete, vagabundo. Só serve para isso.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Quadragésima-quinta noite – Deita e abre as pernas

- Tira toda a roupa, deita e abre as pernas.

Marco Aurélio me disse isso. Não o Imperador Romano, mas o meu namorado. Embora naquele momento tenha agido como supremo mandatário de grande império. Não esgoelou-se, não esbugalhou olhos. Disse. E foi tirar a gravata na toalete.

Pensei em um milhão e meio de respostas e atitudes. Mas a ação que tomei [aliás que minha mão esquerda tomou] foi puxar o laço da gola do vaporoso vestido de estampa verde. Esse foi sinal para que toda peça de roupa que envolvia meu corpo se fosse descolando dele e formando uma obediente pilhinha na poltrona lilás: o vestido, a calcinha-tanga branquíssima, o sutiã esmeralda sem nenhuma dobra no topo. E os brincos e o colar com pedra de alabastro a formar a cereja daquele bolo.

Olhei-me no espelho sem olhar crítico para celulites ou nada: era isso que ele queria, era isso que ele teria. Como se não houvesse nada mais a fazer deitei-me na cama de tamanho bem razoável e afastei as coxas o máximo que as aulas de alongamento me permitiram. O rapaz dera as ordens e nem Freud explicaria como eu achava que nada havia a fazer a não ser obedecê-las.

E nem o chatíssimo médico vienense e seus discípulos em conjunto explicariam como ali nua de pernas abertas eu me sentia frágil e feliz.  Não tinha ânsia nem expectativa – o que deveria acontecer aconteceria. E senti toda minha vida convergindo para aquele momento, a suave brisa do ar condicionado a me beijar os pelos das pernas.

Tive vontade de gritar de felicidade e gritei – naquele momento senti o primeiro impacto.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Quadragésima-quarta noite – O prazer e a dor

- Ela está revirando os olhinhos – disse a esposa.
- Oh.
­- Sim, ela está sentindo um prazer muito intenso – disse o marido. E enterrou seus dezoito centímetros plastificados por mais três vezes na vagina já sobremaneira relaxada da jovem. A esposa acariciava de leve o ondulado cabelo da moça, como a consolá-la – mas não havia necessidade de nenhuma consolação ali.
- Ela está gozando?
- Sim, acho que pela segunda vez. Ou a terceira.
- Adoro esse barulho chulepo-chulepo.
- Ela está me molhando todo.
- Sim, parece que suas bolas tomaram banho.
O marido prosseguiu as estocadas firmes e ritmadas, estocadas essas que lenta porém perceptivelmente atingiam profundidades maiores do corpo da moça.
- Vai bater no útero dela.
- Quem sabe?
As pernas da jovem atingiam ângulo de abertura impensado havia poucos minutos.
- Põe a mão sobre ela – disse o marido.
- Estou sentindo as ondas lhe prazer a percorrê-la. É lindo.
- Devo parar agora?
- Não, castigue mais um pouco. Para ela se lembrar que uma coisa é transar com um homem qualquer; outra é transar com o meu marido. É especial.
As mãos da moça pousaram na cintura do macho, mais a sentir o movimento que a parar.
- É agora – disse ele.
- Já?
- Estou comendo essa garota há vinte minutos. Oh.
- Nos seios, nos seios – disse a esposa.
E ele obediente arrancou o plástico e jatos sucessivos de sua semente cobriram os bicos marrons da jovem.
O beijo foi para a esposa.
- Gostou?
- O prazer e a dor de ver seu marido comer outra – disse a esposa não sem filosofia.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Quadragésima-terceira noite – Tudo bem, isso acontece

Não somos anjos, ou pelo menos eu não sou. Letícia, 34 anitos, três relacionamentos frustrados, alguns chifres recebidos e dados, não a coisa mais linda do mundo mas também não a pior, não engordei nem nada. Normal. Anormal era o volume na sunga azul-escurona entre as coxas de Roberto, o Betinho. O Betinho: 22 aninhos, carinha de bom moço. Frequentávamos o mesmo clube, eu amiga da amiga que ele [sem o mínimo talento] tentava paquerar. Decidi [na beira da piscina e levantando o óculos escuraço para ver melhor] que, sem nenhum escrúpulo e nem o mais singelo simulacro de piedade, usaria aquele corpo para meu egoístico prazer.

Aproximei-me pretextando facilitar os xavecos [não facilitei nada]. Visitava seu quarto [moderna, não?] e um dia enchi-lhe a bola do corpinho da menina que ele estava a fim. Descrevi coxas e seios e mais e uma olhadela me revelou que o Betinho estava mais interessado era nas minhas coxas, das quais uma grande maioria escapava por debaixo da bermuda marrom. Apesar de mais que antecipado o momento, surpreendi-me quando suas mãos abarcaram quase que minha cintura inteira, as veias dos braços saltaram e [quase cinderela virgem again] me vi suspensa no ar e colocada em uma cúmplice mesinha sideboard.

Depois que presenciei a plastificação [meu único cuidado] virei coadjuvante. Lembro apenas os impactos, com ritmo, minha cabeça no seu ombro e um doce cheiro de suor. E depois em desabar um sobre o outro. E do depois, ele de novo com carinha-de-culpado: Desculpa, tá, Letícia? E eu dei-lhe beijinho no rosto Tudo bem, isso acontece.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quadragésima-segunda noite – Cinderela

- Gosta de carros grandes?

- Depende do que se faz dentro deles – e faz mover as ondas do cabelo.

Vaporoso vestido de seda preta, cabelo de anúncio de xampu, salto do sapato com a altura da estratosfera. Ele de smoking, brilho no olhar e na abotoadura dourada, jeito de príncipe. Meia dúzia de minutos de conversa, encontro casual, casualíssimo. Ele pergunta, ela responde, ele treme leve, o olho dela diz Why not?

Minutos depois o grande automóvel pára em tranqüilo-lugar. Banco traseiro prêmio de maciez. Brinco guardado na bolsa, meia e muito mais no chão, ela envia um dos tornozelos espiar pelo lado de fora da janela, afasta o outro para o lado oposto, muito longe. A seda negra do vestido arregaçada até o umbigo traz à visão uma outra seda, muito negra, muito úmida. Brilhantes pela tensão e pela borracha os centímetros do rapaz desaparecem um após o outro, o portal negro a devorá-los em silêncio.

Ela dá grito fino de agulha, ele não sente dor mas geme. Rápida, a mão dela lhe arranca o plástico, a semente cálida lhe acaricia até o cordão do pescoço.

Voltam metade de hora depois. Ela ajeita o cabelo, mesmo sorriso. Arranca um dos sapatos, deixa no banco. .

Ela já a cinco passos, a misturar-se à cidade. Ele pergunta Qual é seu nome?

Ela mal se volta:

- Cinderela.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Quadragésima-primeira noite – E começa o show

Amor a três e amor tem pouco a ver com o conjunturoso momento – talvez nada. A classicíssima situação: namorado [meia Eisenbahn na cabeça] conjectura – devaneia – delira – em voz alta sobre a possibilidade de - um dia – quem sabe – talvez – oportunamente – fazerem algo em conjunto com uma – ruiva cacheada – loura platinada – negra black power – e toma mais gole e meio da especial cerveja.

A namorada [também não isenta dos efeitos do etanol e outros baratos alcoólicos] queda mordida: homens! Dispara-volta: E porque não um ruivo... um louro... um negro... e o efeito da loura [a bebida] parece se desvanecer em meio segundo [nele].

Mas não acabou nela. Dia seguinte, mês seguinte, vez em quando a crucial pergunta ronda a cada momento de descontração – E um terceiro?...? E ele desconversa.

Quando querem os deuses ou diabinhos do amor eles querem, e trazem sempre um primo distante, um amigo de um amigo, um ex-namorado sem muitos problemas de passar um par de chifres na noiva que mora em estado vizinho [e foi esse o caso - não muito ético mas quem disse que ética tem a ver com isso?]

Em um quarto no hotel com portão ridiculamente rosa ao lado do campus a namorada [tornada diretora de teatro] faz as marcações e comparações: feliz ao ver que o ilustre convidado especial ostenta um par de centímetros a mais que o titular. Este não se põe muito satisfeito mais o espetáculo deve continuar.

E a grande show-woman sorri ao ver-se no espelhaço, a galvanizar a vida de dois machos. E o show começa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Quadragésima noite – Só brincadeira, tá?

Rolamos pela cama-box eu e Teresa Maria e ainda bem que aquela era baixinha e o tapete rosa embaixo era felpudaço, senão nos teríamos machucado ao cair no chão do ap duas-peças dela, um quadro parecido Mondrian a dominar a parede e espiar o quiproquó.

Esqueci detalhe: sou mulher também.

E nunca pensei em fazer nada com uma coleguinha de metade de Humanidade. Uma garrafa de Passchedaele belga, pura cevada, deliciosíssima e caríssima, dividida com minha amiga no charmoso-bar de cervejas especiais fez com que vinte e cinco minutos depois meu sutiã carinho bordado Heloísa aterrissasse sobre o Top violeta de Teresa no canto perto do abajur. Fizemos lutinha para ver quem seria a primeira a brincar de bezerra. Teresa venceu e de olhos meio-fechados vi um par de bicos a ficar rígidos sob os lábios de batom gloss bege da minha amiga.

Sessenta segundos depois [organizadas que somos] cada uma se concentrava em desfazer obstáculos, os dedos de Teresa nos botões da sua calça jeans quase-negra enquanto eu lutava contra o zíper emperrado da minha saia verde-abacate.

Meu pobre coração pulou duas batidas [confesso] quando a sua tanga muito alva escorregou pelas coxas de bronze quase perfeito [e juro mil vezes que parece que o dela pulou três].

Quando tudo se encaminhava, meus olhos azuis se encontraram com os negros dela - E agora? Parecíamos pensar.

E agora... e respondemos, voz alta, É só brincadeira, tá? E rimos. E a brincadeira rolou.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Trigésima-nona noite – Doce Egoísmo a dois

Masturbemo-nos, Ana Clara, em doce egoísmo a dois. Minha mão direita [ao teu lado] crescerá uma Torre de Pisa, com cúpula a brilhar. E logo terá companhia da tua mão [Ana Clara] que com o par de dedos já acostumados tocará no teu ponto exato no vão entre tuas coxas, meus ouvidos a escutar o desce-e-sobre molhado.

Espiaremos de olhos semifechados o prazer do outro, Ana Clara [do qual faremos e não parte]. Nossas pernas rocarão de leve e dois ou três gemidos serão a cereja desse bolo matinal.

Logo nossas outras mãos lembrarão que nenhum de nós dois está sozinho no mundo [Ana Clara] e que o outro existe [o leve vibrar da cama a lembrar isso sempre]. Tua mão me percorrerá a floresta de pelos negros do peito e por um tempo [que me semelhará próximo ao infinito] encontrar-se-á com as duas fontes de todo desejo, Ana Clara, alojadas entre minhas coxas, as quais tu [com cuidado de não interromper o trabalho que exerço] apertarás e eu [macho] aguentarei.

E te darei resposta, Ana Clara, subindo [alpinista] com minha outra mão os cumes de teus seios, os quais eu [novo explorador do Everest] farei mais altos, recorde do Guiness.

Um delicado gêiser explodirá, Ana Clara, com o jato seguro por tua mão brincalhona com o mel branco, enquanto a minha procurará o vão entre tuas coxas, o qual uma chuva de orvalho terá coberto – em doce egoísmo a dois, Ana Clara.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Trigésima-oitava noite – Vou mesmo fazer isso?

- Vou mesmo fazer isso? – perguntou-se Ana Leila, mordendo o lábio inferior, assustadiçazinha - em sua volta a penumbra, duas poltronas cor abóbora-berrante, três pufes e a faixa negra muito bem podada de exatos três centímetros de largura entre as coxas de Maria Eduarda, a dois dedos de distância do seu nariz. Como fundo musical, apenas a pesada respiração da amiga – Ana Leila a vestir uma delicada tanguinha rosa-pálido quase a transparecer – Maria Eduarda vestia o Chanel 5 e dois anéis na mão esquerda.

[Quase] todo doutorado tem uma charmosérrima professora, óculos-de-intelectual, pós em Berlim, ex-marido chato já esquecido e fama de simpática. E também uma aluna meio-tímida, de seus vinte e poucos, vinda de cidade menor, apartamentinho alugado perto do campus e deslumbre diante de tanto filme iraniano e abaixo-assinado a se engajar. E também um barzinho onde as duas meio por acaso meio por destino se encontrarão.

No encontro Ana Leila nada percebeu demais – apenas um ou outro gesto carinhoso da amiga de passar-lhe a as costas dos dedos no pedaço de coxa que emergia da saia jeans. Além da conversa sobre novas experiências e horizontes.

Dessa conversa de alguma forma vieram ao quarto-e-sala da professora, ao Besa-me no mp3 a as duas a dançar nuas sobre o tapete Nain. Eduarda não a beijava – deixando claro que não havia amor ali. Em um último momento de tolinho pudor Ana Leila se perguntou Vou mesmo fazer isso? – e sua língua respondeu afundando no corpo da amiga, que deu uivo-de-lobinha. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Trigésima-sétima noite – Cruel

Usei o corpo de um rapaz chamado José Roberto e disso não tenho nenhum poucochinho de dor na consciência. [Na verdade, só guardei o nome dele porque é o mesmo do vizinho de um primo]. Três meses e dezessete dias depois que saiu a sentença do divórcio vi-me eu, livríssima e soltíssima, depois de quinze anos de casamento chato no qual entrei zerada e de branco e levei belos chifres. E anjinhos ou diabinhos me puseram naquele dia em uma mesa de bar depois do trabalho com uma amiga conhecida e muita gente desconhecida.

Os ditos diabinhos fizeram com que compromissos ou sono tirassem um a um da mesa, e fiquei sozinha com um rapaz que noventa minutos antes não sabia que existia. Nada me chamara a atenção nele, até que levantou e notei o volume sob sua bermuda. Enquanto estava fora, coração aos pulos, peguei sua carteira e saquei sua identidade, de-maior. Voltou, e uma dúzia de minutos de conversa me deu a informação relevante: tímido, estudante, sem amigos, do interior, mal conhecia ninguém na mesa. Maquiavel dentro de mim pensou A Vítima Perfeita. E antes que eu mesma engendrasse plano, minha mão já deslizara pelo meu decote, afastando-o por um segundo, o suficiente para ninguém mais ver naquele cantinho mas o bastante para que os olhos dele duplicassem de tamanho.

E foi em um lugar com o nome idiota de Paradise´s Motel que comi um jovem chamado José Roberto. Plastifiquei-o, troquei de posição e fui meia dúzia de vezes perto do paraíso. Nem sei das consequências psicológicas que isso teve para um rapaz quieto. Cruel, não?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Trigésima-sexta noite – Histórias para Tássia - Na Vida Sétima

Tivesse eu sete vidas [Tássia] na sétima seríamos swingers. Não desses normaizinhos [quase casal mamãe-e-papai] maridinho a ver o universitário em cima da esposinha [esta no tradicionalíssimo ui ai que gostoso] e depois ela a agradecer apaixonada ao esposo.

Nós liberaríamos, Tássia. Coerente com as sete vidas, escolheria sete para você – eu do lado de fora do quarto, depois de rigorosa seleção incluindo bom humor, bom cheiro e bom calibre [você de cinta-liga violetaça]. Eu os veria entrar em ordem [bons caras] e os suspiros seus começariam [Tássia]. E eu deliraria mais do que você [Tássia]: minha esposa [o amor-vida-minha] e sete homens nus. Não precisaria ver [Tássia] a fila, cada um a esperar [im]pacientemente a vez [seus seios a dançar rock dos anos setenta] os gritos [inclusive deles] no mundo.

O tempo urge e a vida é curta [Tássia] você [boa moça consciente disso] de quatrinho receberia um, agasalharia o outro na boca e um terceiro seria bezerrinho ansioso nos seus seios, sem descuidar de um revezamento para que cada um dos sete tivesse sua justa vez.

E depois eu te colocaria a dormir o sono dos anjos [minha querida Tássia] e [não sem algum machismo] iríamos a um bar tomar chopps e não falar de mulheres, mas de uma mulher. Eu receberia chuvas de elogios aos seus seios, coxas e boca [Tássia] e por muitas vezes lhe chamariam gostosa e brindariam a isso. E eu receberia tudo com orgulho no auge, pois saberia [Tássia] que, afinal de tudo, é minha que você é.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Trigésima-quinta noite – Brincaremos de Reino Distante

Brincaremos de Reino Distante – Era uma vez um Reino Muito Distante... e nesse reino tu serás a Rainha [cabelo à la Cleópatra, peles de leão ao pé do trono, tédio do poder, crueldade e sede de prazeres insaciáveis]. E tu lançarás certame – fortuna e ventura sem cálculos – ou a cabeça cortada – para quem satisfizer a rainha. Escravos ruivos do Épiro, louros da Gália, negros da Bitínia – todos murcharão seus muitos centímetros ante a perspectiva do fracasso.

Só eu apresentar-me-ei a teu Trono, e desatarei os laços que prendem os meus poucos panos e meus não recordistas mas respeitáveis vinte e um centímetros se apresentarão [cortesãos e cortesãs em volta]. E não te darei tempo de se recuperar do atrevimento do escravo – afastarei teus joelhos e farei com que surja um rio rosa entre a floresta negra que poucos tiveram a coragem de explorar. E os impactos fortes e ritmados [tu a tentares te segurar nos braços do teu trono] balançarão os seios da rainha, os quais também não descuidarei de amassar.

Depois [explorador] abrirei caminhos outros, a fazer pela porta de trás o que já fizera pela frente, e te mostrarei que mesmo neste Paraíso [minha rainha] há lugar para um pouco de dor, que tu [corajosa] aceitarás.

Terminarei te servindo [e tu serás a rainha] o néctar mais puro direto na tua doce boca de âmbar. E tu [em final feliz] nomearás como favorito a mim, o único que não te tratou como rainha mas como mulher.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Trigésima-quarta noite – Por sete semanas e meia

Por sete semanas e meia quis sodomizar Andréa Carolina. Levei-a a barzinhos hispster [peças de velhos Mercedes-Benz penduradas no teto], detonamos seguidos copázios de coquetéis Sommerfeeling e Greenwater e rimos muito [os dentes de Andréa Carolina, o marfim perfeito a encher minha visão] e no caminho de volta [caminho esse para o qual nutria tantas esperanças] nada.

Depois tornei-me fit. Vinha pegá-la à sete da madrugada no domingo [haltere de cinco quilos na mão] para corremos juntos na avenida fechada. Dividimos scoops de whey protein e tupperwares de salada de alface e pepino, Andréa Carolina com seu óculos de sol e sua legging apertadíssima cor-de-abóbora [que nunca me deixava esquecer meu desejo final]. Desejo que não se realizou.

Metamorfoseei-me em nerd. Baixei duas dúzias de programas ilegais ou não, colecionei contas de twitter, spotify, tumblr e mais parta-que-o-raio, aprendi a manejar três tipos de playstation e aprendi que RPG não é um tipo de ginástica. Encostava minha testa na testa de Andréa Carolina quando nossas mãos se juntavam no joystick ao jogar a última versão do warcraft. Mas quando ao nosso outro jogo, o silêncio.

Eu me transformei então em mais nada. Levei-a para casa após banalíssima água de coco – ela distraída, como que a medir a resistência da mesa da sala. E disse mais para si mesma acho que aguenta.

E debruçou-se, e a saia verde-abacate voou mostrando-me a tanguinha enfiada de cor idem. E este foi o último dia das sete semanas e meia em que quis sodomizar Andréa Carolina.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Trigésima-terceira noite – Serei sua

Serei sua prostituta, Antônio Marlos – e você será meu cliente - a profissional, garota de programa, cacho, gata de praia, nada-a-mais. Pendurarei brincos enormes – aquelas argolas de ouro falso que roçam no ombro das atrizes de terceira nos pornôs de quarta categoria. Percorrerei sex-shops de fundo de galeria e lojas de lingerie em eterna liquidação na Saara e encontrarei as tanguinhas menores, estampa-de-oncinha, as mais vulgares, sutiãs-com-furinho, de tecido tão fraco de rasgar a qualquer puxada.

Tatuarei dragões, gatinhos ou corações flechados, Antônio Marlos, e os desenhos sequer serão originais. Pintarei o cabelo de dourado-imitação-radical no salão mais barateiro, e uma nota de três dólares em forma de estrela parecerá mais real que essa cor.

Mascarei chicletes, Antônio Marlos, e farei pop com uma bola na sua cara, e pintarei os lábios de um vermelho a enxergar do outro lado do Atlântico. Pegarei bronze artificial e clarearei os pelos das pernas e apertarei tudo em um top e uma microssaia tão justas, Antônio Marlos, que cada saliência da pele aparecerá muito mais do que ao natural.

Falarei palavrões, Antônio Marlos, e bem perto de você para que possa sentir meu Chanel 5 falsificado. Cobrarei um preço não muito alto e ainda aceitarei na hora sua contraoferta dois terços mais baixa. Levá-lo-ei a um motel de esquina e começarei conversa repleta de safadezas, até que você se impaciente e tome posse de sua mercadoria, que serei eu.


Serei sua prostituta, Antônio Marlos, e você será meu cliente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Trigésima-segunda noite – Apaixonado, Maria Laura

Podes me chamar machista, Maria Laura, mas eu estou apaixonado por tua bunda. Não pelo teu doutorado em filosofia, pelas histórias incríveis que tu trouxeste da tua viagem a Istambul ou pelo jeito carinhoso com que tratas os cãezinhos da rua.

Podes me considerar cafajeste, Maria Laura, mas eu quero penetrá-la. Não à tua inteligência, por si tão penetrante dos problemas da cognição matemática, mas à tua bunda, Maria Laura. Quero segurar pela cintura, saborear cada milímetro a desaparecer no teu universo, enquanto tu de olhos fechados recitas um soneto de Camões de trás para diante.

Podes me julgar um tolo, Maria Laura, mas por ela eu abriria mão de dois Prêmios Nobel, sete milhões de dólares, da possibilidade de criar algum software revolucionário ou alguma vacina que empurraria meu nome em futuras enciclopédias. Não abriria mão por ti, Maria Laura, mas por tua bunda – por apalpá-la, sentir-lhe a firmeza e maciez.

Podes me denominar sacrílego, Maria Laura, mas eu desistiria de ter meu nome em igrejas, aliás, esqueceria até seus endereços. E ela seria o meu lugar sagrado, Maria Laura, a tua bunda, sem esquecer a coadjuvância dos teus seios e coxas e demais.


Podes me apelidar alienado, Maria Laura, mas seguiríamos nós dois na vida: tu, a líder, na frente, eu, Maria Laura, o liderado, atrás de ti, logo, muito colado atrás de ti. E olharíamos os dois pela vida afora, nossas respirações a se misturar, nós dois a olhar sempre na mesma direção, Maria Laura.