terça-feira, 31 de maio de 2016

Centésima-décima-quarta noite - Não mais santos, Júlia Carolina

Somos corretos e dignos [Júlia Carolina] mas em meu sonho não o seremos mais. Aventureiros e jovens, chegaremos a cidade estranha de terra vagamente liberal [que tal Praga, ou melhor ainda Budapeste] e lá a falta de vil metal e o desejo de aventuras nos puxarão para uma dessas boates da pesada. Bom casalzinho que somos, a proposta será pura, quase inocente – só nos dois [monogamia total] fazendo de tudo defronte à plateia.

Diante de luzes faiscantes estroboscópicas e rock mais que pauleira eu te porei de quatro [Júlia Carolina], você vestindo um par de brincos de argolona para enfatizar o balanço do corpo, e mais nada. Eu sem ser espadachim porém já em guarda desaparecerei uma parte do meu corpo no teu – e indeciso, mudarei de ideia e sairei, para um décimo depois visitar-te de novo, e depois sair, enquanto tu gritas uma ópera com letras que só tu entenderás.

E não teremos vergonhas ou vilezas [Júlia Carolina] e a quantidade da plateia (cem? Duzentos? Novecentos e noventa?) para nós não passará de mero número [seu barulho só um fundo sonoro, sua imagem sufocada pelos refletores amarelos]. E eu [em um palco em alguma distante e liberal cidade] tirarei de ti todas as virgindades que algum dia nem imaginaste ter, e, cercados de gente, estaremos sós [Júlia Carolina], na solidão que [no fundo] sempre cerca os amantes.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Centésima-décima-terceira noite - Amante de Salomão

Salomão [o Rei] teve setecentas esposas e trezentas concubinas – isso o Mundo sabe desde o Livro dos Reis. Tais números geram [quase e sempre] sorrisos e uma pergunta que não fica no ar, é bem repetida: Como dava ele conta??... E mais sorrisos se multiplicam.

Essa pequena crônica não se prende a considerações potencialmente viagrísticas. Realizo outra pergunta, sempre deixada de lado porém muito mais capciosa: do ponto de vista desta pequena [e na verdade não tanto] multidão, Como Aparecer no Meio das Outras??

Professores da Universidade de Esmirna-V [trabalhando em pequeno laboratório da sua congênere em Abu Dhabi] descobriram dois velhos alfarrábios nas areias do Nilo que revelaram certa Sarah, sempre a primeira escolhida nas noites de amor do poderoso Rei. Não a mais loura, nem a mais morena, nem a mais alta, nem a mais magra. Bela, mas havia outras mais.

A jovem Sarah sabia se vestir [mas não o fazia excessivamente]: laminava o momento exato de afastar a seda do Pamir e mostrar uma meia lua do bico, ou a maneira exata de em fração de segundos afastar as coxas para sugerir a Sua Majestade que para ele as afastaria ao triplo. Suas conversas envolviam textos antigos e diálogos de Filósofos liceanos, e de vez em quando uma doce palavra feia, para mostrar que era cérebro e corpo – e o Rei a preferia, para o leito e para dar joias.

Os tais professores [em epílogo bem pouco científico] dividiram-se em considerá-la heroína ou espertalhona [enquanto creio em intermédio].

domingo, 29 de maio de 2016

Centésima-décima-segunda noite - Amantes Moderníssimos seremos

Amantes modernos [Vládia Teresa] modernaremos para valer. Seremos arroz de festa [Vládia Teresa] umas festas muito animadas com amigos para lá de especiais, nas quais metade se classificará não só pela simpatia e boa vontade mas pela centimetragem. E eu deslizarei a microtanga de seda verde-transparente por suas coxas e lhe oferecerei, posição de doce quatrinho. E a festa começará para nós dois – para mim uma suave e dolorosa festa de mirar teu rosto a franzir os olhos e comparar-me com os presentes que lhe darei – cada presente plastificado e longo.

Quanto a mim, serei cavalinho para senhoras casadas entediadas, com seus maridos a observar a cavalgada, sempre a subir e descer, e sair na H hora e ser por outra substituída. Serei garçom muito especial entre vários, todos empenhados em servir com o melhor de seus dotes a uma dama em êxtase. E com o canto do olho verei você a conversar com uma amiga, e depois com outra, e até uma terceira [Vládia Teresa] – amigas muito especiais em conversas especialíssimas, com seu rosto a procurar a profundidade entre as coxas da outra [Vládia Teresa] enquanto a [muito amiga] faz o mesmo com você.

E depois disso [depois] vou lhe levar para casa [para a nossa casa] e esquentarei três dedos de leite com um par de biscoitos, vou lhe abraçar e dormiremos juntinhos e a ouvir a Berceuse de Brahms e sonhar com uma nova festa.

sábado, 28 de maio de 2016

Centésima-décima-primeira noite - Novos falsos Dante e Beatriz

Beatriz Portinari não morreu. [Seu túmulo na capela de uma ruazinha de Florença se encontra vazio, ou ocupado por tesouros ou documentos de incomensurável valor de acordo com a versão que se consulte]. E por discutível que seja essa imortalidade alguém que viveu há sete séculos, a versão mais imaginativa [embora não a mais fantástica] insiste que vive até hoje, em um paraíso de poetas e suas musas, junto com Homero, Milton e Paulo Leminski. Há porém [sobre Beatriz Portinari] afirmações mais ousadas.

Todos conhecem a História: aqui a Casa dos Alighieri – ali o Sobrado dos Portinari. Entre ambas a capela – o único lugar onde a adolescente dos Portinari podia se encontrar com Dante, o adolescente dos Alighieri. E os olhares furtivos, as promessas de amor eterno, o exílio do político eterno perdedor Dante, o casamento forçado dela com um velho chato e gordo, a morte intacta, os livros de poemas dedicados posteriormente por ele. Uma história romântica [talvez] em demasiado para ser real.

Uma velha alcoviteira, que contou para uma lavadora de pratos, que relatou para uma cozinheira, que afirmou para um escriba, revelou que as matas de Florença abrigaram histórias de arrepiar os cabelos dos poetas do romantismo que divulgaram a versão standard, todas envolvendo Beatriz de quatro e o jovem Dante a contemplar o Céu e gemer, sem que isso envolvesse qualquer sentimento celestial, e com muitas poucas sedas venezianas a cobrirem seus corpos. Esta versão [talvez tão incrível quanto a normal] pode ter [no entanto] efeitos imprevisíveis sobre o afluxo turístico, razão pela qual é pouco provável que as agências de viagem e o Governo da Itália a endossem.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Centésima-décima noite - Helena de Troia, a pioneira

Helena de Troia [dizem] não era de Troia [era grega] e não era santa. Alfarrábios pisados descobertos em alguma biblioteca em Florença [ou seria Burgos] atestam que que a louríssima e olho-azulíssima Helena tinha suas próprias ideias – que passavam bem longe de Agamenon, Aquiles, Ulisses e toda aquela pletora de gregos que se aborreceu por dez anos só para levá-la de volta.

Com efeito, atribui-se a ela a inspiração para opúsculos como Da Arte de Realizar o Amor com mais de Quatro Guerreiros ao Mesmo tempo ou Pequeno estudo comparativo da dimensão e qualidade dos Falos troianos em comparação com os outros do resto do Mundo, especialmente os Falos dos Gregos e o resultado deste último estudo - francamente favorável à Turminha da Pesada de Páris e Heitor – já seria suficientemente para levar o macharal de Atenas e Esparta a declarar a Guerra a Troia, se a mesma já não existisse.

Mais do que isso [em manuscrito que Homero não chegou a conhecer – ou que conheceu e não teve coragem de incluir em suas obras] atesta-se que [enquanto os gregos mutilavam e se faziam arrastar ao pó] escravos da Núbia, Córsega e Épiro [coadjuvados por cortesãs hititas e persas] testavam a flexibilidade do corpo da rainha ex-grega e sua capacidade de usar todos os seus recursos corporais para o êxtase físico com muitos e por muito tempo.

À pergunta de se os heróis gregos sabiam dos chifres e se isso não os desinteressava, intérpretes [muito] modernos avançam que [ao contrário] isso os fazia cada vez mais apaixonados. Tal hipótese tornaria Helena uma pioneira de uma parte do mundo moderno – aqueles anúncios de maridos oferecendo esposas para garotões – que teria começado em uma obscura guerra no Helesponto que ninguém sabe se realmente aconteceu.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Centésima-nona noite - Amantes e viajantes pelo tempo

Amantes e viajantes pelo tempo, amar-te-ei fisicamente [Ana Larissa] em diversos tempos e lugares. Serei escravo núbio [ó minha faraó-rainha] o qual tu [diadema de diamante em colar de serpente na cabeça] utilizará como trono, um trono no qual te sentarás com admirável lentidão [os olhos a revirar para o céu de Karnak] em volta de uma silenciosa plateia de cortesãs e bajuladores, infinitamente respeitosos da diversão tua.

Serei milionário viúvo e tarado [Ana Larissa] dono de uma próspera fábrica de pregos em algum subúrbio de Newark, às cinco da tarde do dia 27 de fevereiro de 1911 [não tenho ideia porque escolhi esse dia] e tu serás operariazinha recém chegada dos rincões de West Virginia [Ana Larissa] sem um tostão nas saias e menos de vinte anos de vida, mas com um traseiro em extremo redondo e macio. E no dia de nossa lua de mel [as já mencionadas cinco horas], em casamento de absoluta sinceridade [de conforto físico em troca de conforto de conta bancária] eu [milionário e tarado] colocar-te-ei de quatrinho.

Liberaremos e faremos festinha high-party em tempos liberados [1972? 1968?] e em tempos de Paz e [muito] Amor [faixas nos penteados e pouco pano além disso] serei o teu terceiro da noite [Ana Larissa] e estragarei teus planos, pois serei o terceiro o quatro o quinto e infinito, a frustrar os outros hippies para os quais amor repele as repetições.

E se fugires através de túneis no tempo [Ana Larissa] eu [renovado e fugitivo] alcançar-te-ei, e amar-nos-emos fisicamente – de novo, sempre.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Centésima-oitava noite - Primordial Transa Nórdica

Diz certa lenda nórdica [e as lendas são sempre tolas] que no começo nada havia [grande novidade]. Ou melhor, havia [o que também não constitui notícia] certo deus informe que [talvez para minorar o tom semi-monstruoso de sua não-forma] resolveu partir-se em dois.

Partiu-se em inevitáveis princípios Feminino e Masculino, e tais princípios se materializaram em uma mulher e um homem, com tranças louras e olhos azuis [afinal eram nórdicos] – a quem a posteridade deu nomes plenos de consoantes mas outra posteridade [mais prática] denominou Katja e Hans.

Decidiram [não sem certa germânica frieza] que um mundo de dois não possuiria grandes gozos [nem tragédias] e decidiram povoá-lo. E o fizeram, em meio a uma floresta negra e brumosa [como sempre acontece com as narrativas de florestas do Norte] e aqui termina a parte adequada para menores. Naquele momento principiam as histórias de umidades e endurecimentos, e entradas pela frente e por trás e sessões duplas e triplas – além de suor e de cabelos de ouro a balançar.


Tal história [como acontece com essas histórias] se passou há muito, e a existência de gente no mundo é sinal inequívoco de seu sucesso. Arqueólogos da Universidade Humboldt [não me perguntem como] apuraram que o lugar dessa transa primordial se deu onde hoje é Berlim, perto do cruzamento de ruas em absoluto banais chamadas Keithstrasse e Wichmannstrasse, perto do quartel da Polizei e de um supermercado Netto, onde hoje há um hotel cor de rosa, no qual me hospedei e tomei café com bolinhos.