Alexander Blok
passeava na madrugada da Perspectiva Nevski em São Petersburgo. Era julho de 1912,
o mundo lhe parecia banal e coerentemente só banalidades lhe vinham à cabeça: Noite. Lanterna. Rua. Farmácia. E completou
o tolo verso: uma luz estúpida e baça.
O poeta Alexander
chutava latas às duas horas e quarenta e três da manhã de Petersburgo pensando
em o quanto o mundo era tolo quando uma Fräulein
de olhos azuis e cachecol azul [quase em frente à Fortaleza Petroplavlovski] lhe
cruzou o caminho. Ela lhe pediu um verso. Ele [em um maço de cigarros feitos em
Lübeck] lhe escreveu Ainda que vivas outra
vida, Tudo é igual e não há saída. A garota [dizem] lhe deu um beijo [quase]
inocente.
O simbolista
Blok [cabelos crespos e gravata borboleta negra] seguiu a jovem até uma taberna
nas catacumbas [o sol já se esgueirava por detrás do Hermitage]. Pediu um par de vodcas – não as tomou. Gritou que o
sonolento dono e os outros fregueses saíssem, atirou-lhes um rolo de rublos e pôs
a tranca no portão.
A garota do maior
poeta daqueles tempos de quase-revolução puxou-o pela gravata borboleta, agarrou-o
pelos cabelos, o poeta levantou-a pelas coxas e pousou-a na mesa odorosa de
resina e álcool. E se beberam, lamberam e impregnaram um do outro até que [sol
alto] o Regimento da cavalaria de Guarda do Czar marchou em frente quebrando
qualquer encanto.
Anos depois,
o poeta simbolista russo Alexander Blok lembrou da garota e pensou que tudo era
mesmo banal, menos um momento como aquele – e decidiu nunca mais escrever.