quarta-feira, 6 de julho de 2016

Centésima-vigésima-oitava noite – Treppamos, nós dois e Berlim

Liebe Frieda, du hast mir doch gesagt – você me disse, querida Frieda – só que você não disse nada e nem se chamava Frieda, e nem eu Hans ou Gunther. Em vez disso você me cravou os olhos azuis [que não são azuis – não somos germânicos] e baixou a cabeça, sua doce cabeça muito  maior que a minha, que engoliu. [Em nossa volta o quarto de hotel de ridículo rosa, e na noite fria da Keithstrasse, a rua Keith de Berlim, pouquíssimas luzes dos predinhos na outra calçada].

Nem um pouco germânicos, não éramos Tristão nem Isolda, e os cavalos dos heróis do Valhala pouco se comparavam a os trens da U-Bahn, o metrô que pegávamos de dia – nossos ouvidos entupidos com a voz metálico-computadorizada: próxima estação – Bülowstrasse... Gleisdreieck... Wittenbergplatz... – e eu mascava, sugava e engolia com meus olhos o seu corpo escondido por camadas de roupas – roupas excessivas para aturar os cinco graus que me faziam ter saudades dos Trópicos.

E eu descontava com juros ins Bett, na cama onde eu lhe prensava – fazendo de você um recheio de sanduíche – onde eu era uma das fatias de pão e o fofíssimo edredom fabricado em algum fim de mundo na Áustria era outro.  Eu lhe tapava a boca para que você não acordasse os fantasmas dos designers da Bauhaus, que repousavam na glória dos gênios em um museu lá perto.

E treppamos, minha cara falsa-Frieda, de mim, seu falso-Hans, pois você descobriu [no meu dicionário] a palavra mais bela em alemão, Treppe, escada – e você me disse enquanto mordia um currywurst em um bistrô na Potsdamerplatz – eu a querer morder seu pescoço.

Um comentário:

  1. Qual a mulher que não gosta de uma modidinha no pescoço, com carinho? hummmm lindo!

    Beijinhos
    Visite, Obrigada.
    Prazeres e Carinhos Sexuais

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