Vulgares e espalhafatosos sejamos,
Antônio Marlos, e não haverá roupas intimas mais frágeis, mais vagabundas, mais
sujas que aquelas que rasgarei na tua frente antes de separar minhas coxas em
ângulo o mais obtuso, uma em Irauçuba outra em Sebastopol, como preparação ao
sorvete misturado com gin de três réis a dúzia com o qual você me cobrirá e limpará
com a língua.
Exagerados e gargalhentos nos
tornemos, Antônio Marlos, e absorverei metade da produção do dia das fábricas
de silicone, e no meio dos dois galhardos morros que se erguerão a teu olhar poderei
ver sua camisa colorida-cafajeste de peixinhos, o peito tornado floresta amazônica
e o jeans apertadíssimo a marcar cada relevo.
Incorretos e descensurados nos
transformemos, Antônio Marlos, você se orgulhará de cada um dos muitos
centímetros, e eu te direi que és o primeiro, e quando descobrires que não o és,
eu te direi que és muito mais – o melhor.
Nós mesmos sejamos, Antônio Marlos,
ou não o sejamos – transformando-nos em nós pelo avesso, em perfeita decência –
a suprema e única decência de se ser o que se é.