Conto a história de Kédira – e Kédira
podia ser mercadora de pérolas, corretora de imóveis ou aquela tua tia-bisavó
que a história oficial da família deletou por indecência.
Conto a história de Elêusis – de quem
se alegaria ser escravo do Épiro, soldado da fortuna ou alpinista radical em
alguma cresta de monte no Oriente Extremo.
Kédira leria os tratados de Euclides
e as versões menos censuradas do Cântico dos Cânticos, e descobriria que as
paralelas encontram-se no âmago do infinito e no seu próprio corpo.
Elêusis iria de’cor´ar os nomes das
seiscentos e sessenta concubinas do Rei Salomão, e a cada uma delas conferiria
o titulo de nova Lady, Chatterley ou Godiva, dentro do supremo poder que a
fantasia confere.
Encontraram-se apenas por uma vez, em
um quarto com pouca luminosidade, um cobertor de penas, e não interessa saber
mais detalhes.
E Kédira, que podia ser muitas,
cravou suas unhas nas costas de Elêusis, que enterrou o rosto nos cabelos de Kédira
que recendiam a algum sândalo antigo do Oriente ou perfume top – a pele morena
na pele branca, e pouco importa saber o que pertencia a quem.
Não quiseram saber detalhes um do
outro, e nem eu e você devemos querê-lo.
Louvemos a Kédira e Elêusis, que
souberam ser mulher e homem, durante um instante – e é inútil sê-lo mais.
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