quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Centésima-quadragésima-terceira noite – Em algum lugar longe

Imagino um país distante no espaço e no tempo – algum lugar que soe abstrato e onde qualquer história se torne verossímil. Imagino [digamos] a Irlanda, em 1916. [Houve uma revolução nessa mesma época, mas duvido que Sean e Chloe tivessem ligado para isso].

Sean marinheirava pelo mundo [algum navio da Booth Line que até beijava as costas do Brasil]; voltava seco e baboso depois de meses de sal e mar; e passava dos vinte centímetros. Chloe trabalhava de auxiliar de enfermeira; morava com uma tia surda em uma ponta de rua; e não era exatamente uma virgem.

E nenhum dos dois era de muita conversa.

Este ritual se passava entre cinquenta e duzentos e quarenta minutos depois do navio amarrar a primeira de suas cordas na doca [dependendo do fim do plantão dela].

Sean e Chloe não chegavam a trocar vinte palavras antes que Sean com suas mãos grandes [pois todo marinheiro tem as mãos grandes] suspendesse Chloe pela cintura como suspendera fardos de algodão prensado. Depositava-a sobre a cama de penas e afastava-lhe as coxas. E se antes não tivesse lembrado, com movimentos centrípetos reduzia-lhe a calcinha a dois ou três pedaços rasgados, enquanto Chole [olhos azuis] respirava profundo como o mar.

E o corpo de Chloe [delgado e branco] suportava com admirável resistência o peso e os golpes do marinheiro, enquanto lhe percorria as costas com os dedos, a rascunhar desenhos invisíveis.
E no final, era a enfermeira que queria tris.


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