sábado, 23 de dezembro de 2017

Centésima-nonagésima noite – Amemos Entre

Amemos entre, Ariana – entre campos, entre rios, entretantos, entre os seios. Entre o passado e o futuro, entre o plano e o resultado, entre o aqui e o outro lado, entre os dois.

Os dois – altos, alvos, dominantes [eu humilde criado Ariana]. Serviçal pressuroso a satisfazer os desejos de ambos – e ao contrário do que diz a Bíblia, é sim plenamente possível servir a dois senhores ao mesmo tempo.

Entre Evereste e Mont Blanc, entre São Paulo e Rio, entre Grécia e Troia, entre Tese e Antítese, serei a Síntese e me esparramarei entre ambos [minha dialética Ariana] pressionado e protegido, o mundo inteiro morno e apertado.

Entre um e outro e não serei indeciso [minha decididíssima Ariana] não há erro nem virtude, apenas os dois, comigo, humilde e zeloso alpinista a contemplá-los da base porém a desejar o ponto mais alto, ou ambos.

Entre rosados e escuros, elipses de Kepler ou perfeitos círculos da Cosmografia Ptolomaica, eu [com a humildade dos Astrônomos Clássicos] saberei que a mim cabe apenas a contemplação da harmonia, a dois, sem jamais alcançá-la, ou até alcançando-a afinal, e afinal beijando-a afinal, à beleza – ou à beleza em dois.

E eu [rio Colorado em meio ao cânion] sentir-me-ei extenso e profundo, oprimido e acolhido, a contemplar a beleza do céu, mais bela porque vista lá do fundo.

E ali mesmo nos amaremos [Ariana], entretantos, entre campos, entre rios, entre os seios.

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