quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Centésima-octogésima-oitava noite – Imperatriz do Rio Lena

Tu serás Imperatriz do Lago Balkash ou das nascentes do rio lena [por aí], aquela que [dizem] o Poder e o Tédio Absolutos fez baixar um edital: Riquezas e Luxos infindos àquele que satisfizesse os reclamos da soberana – e a cabeça cortada aos candidatos que não. [As estrofes dos bardos da Corte e os raros Lobos-Guarás do Zoológico do Palácio não seriam suficientes para distrair-lhe os dias, e culpá-la quem haveria de?]

O Prêmio atraiu muitos e a perspectiva da punição repeliu muitos mais: escravos louros do Épiro, bronzeados da Núbia, guerreiros da Noruega – todos encolheram [em todos os sentidos da palavra] com o temor do fracasso.

Somente eu [ó minha Rainha] apresentar-me-ei diante de teu trono, e será no trono mesmo – não esperarei nem aias nem veneráveis conselheiros deixarem o Salão e três passos me deixarão bem perto de ti e das tuas pernas, as quais separarei [antes mesmo de te dizer bom dia, e para que essas delicadices cordiais?] com minhas mãos a quase dar a volta nas tuas coxas.

E tu [minha pobre rainha] terás de te segurar no espaldar do trono para aguentar o movimento, o mesmo que fará os bicos se moverem em admirável ritmo próprio a marcar sutil melodia.

E te colocarei de joelhos e ficarei de joelhos também [escravos um do outro, em eterna submissão soberana]. E me nomearás Entretenedor Oficial da Imperatriz – cargo com ouro e joias e tendo que me dedicar apenas a desenvolver bíceps e a eliminar teu tédio – emprego indigno afinal, mas nem tudo que é bom é digno.

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