Diz certa lenda nórdica [e as lendas são sempre tolas] que no
começo nada havia [grande novidade]. Ou melhor, havia [o que também não constitui
notícia] certo deus informe que [talvez para minorar o tom semi-monstruoso de
sua não-forma] resolveu partir-se em dois.
Partiu-se em inevitáveis princípios Feminino e Masculino, e
tais princípios se materializaram em uma mulher e um homem, com tranças louras
e olhos azuis [afinal eram nórdicos] – a quem a posteridade deu nomes plenos de
consoantes mas outra posteridade [mais prática] denominou Katja e Hans.
Decidiram [não sem certa germânica frieza] que um mundo de
dois não possuiria grandes gozos [nem tragédias] e decidiram povoá-lo. E o
fizeram, em meio a uma floresta negra e brumosa [como sempre acontece com as
narrativas de florestas do Norte] e aqui termina a parte adequada para menores.
Naquele momento principiam as histórias de umidades e endurecimentos, e entradas
pela frente e por trás e sessões duplas e triplas – além de suor e de cabelos
de ouro a balançar.
Tal história [como acontece com essas histórias] se passou há
muito, e a existência de gente no mundo é sinal inequívoco de seu sucesso. Arqueólogos
da Universidade Humboldt [não me perguntem como] apuraram que o lugar dessa transa
primordial se deu onde hoje é Berlim, perto do cruzamento de ruas em absoluto
banais chamadas Keithstrasse e Wichmannstrasse, perto do quartel da Polizei e de um supermercado Netto, onde hoje há um hotel cor de
rosa, no qual me hospedei e tomei café com bolinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário