quarta-feira, 25 de maio de 2016

Centésima-oitava noite - Primordial Transa Nórdica

Diz certa lenda nórdica [e as lendas são sempre tolas] que no começo nada havia [grande novidade]. Ou melhor, havia [o que também não constitui notícia] certo deus informe que [talvez para minorar o tom semi-monstruoso de sua não-forma] resolveu partir-se em dois.

Partiu-se em inevitáveis princípios Feminino e Masculino, e tais princípios se materializaram em uma mulher e um homem, com tranças louras e olhos azuis [afinal eram nórdicos] – a quem a posteridade deu nomes plenos de consoantes mas outra posteridade [mais prática] denominou Katja e Hans.

Decidiram [não sem certa germânica frieza] que um mundo de dois não possuiria grandes gozos [nem tragédias] e decidiram povoá-lo. E o fizeram, em meio a uma floresta negra e brumosa [como sempre acontece com as narrativas de florestas do Norte] e aqui termina a parte adequada para menores. Naquele momento principiam as histórias de umidades e endurecimentos, e entradas pela frente e por trás e sessões duplas e triplas – além de suor e de cabelos de ouro a balançar.


Tal história [como acontece com essas histórias] se passou há muito, e a existência de gente no mundo é sinal inequívoco de seu sucesso. Arqueólogos da Universidade Humboldt [não me perguntem como] apuraram que o lugar dessa transa primordial se deu onde hoje é Berlim, perto do cruzamento de ruas em absoluto banais chamadas Keithstrasse e Wichmannstrasse, perto do quartel da Polizei e de um supermercado Netto, onde hoje há um hotel cor de rosa, no qual me hospedei e tomei café com bolinhos.

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