- Gosta de carros grandes?
- Depende do que se faz dentro deles
– e faz mover as ondas do cabelo.
Vaporoso vestido de seda preta,
cabelo de anúncio de xampu, salto do sapato com a altura da estratosfera. Ele
de smoking, brilho no olhar e na abotoadura dourada, jeito de príncipe. Meia
dúzia de minutos de conversa, encontro casual, casualíssimo. Ele pergunta, ela
responde, ele treme leve, o olho dela diz Why not?
Minutos depois o grande automóvel para
em tranquilo-lugar. Banco traseiro prêmio de maciez. Brinco guardado na bolsa,
meia e muito mais no chão, ela envia um dos tornozelos espiar pelo lado de fora
da janela, afasta o outro para o lado oposto, muito longe. A seda negra do
vestido arregaçada até o umbigo traz à visão uma outra seda, muito negra, muito
úmida. Brilhantes pela tensão e pela borracha os centímetros do rapaz
desaparecem um após o outro, o portal negro a devorá-los em silêncio.
Ela dá grito fino de agulha, ele não
sente dor mas geme. Rápida, a mão dela lhe arranca o plástico, a semente cálida
lhe acaricia até o cordão do pescoço.
Voltam metade de hora depois. Ela
ajeita o cabelo, mesmo sorriso. Arranca um dos sapatos, deixa no banco.
Ela já a cinco passos, a misturar-se
à cidade. Ele pergunta Qual é seu nome?
Ela mal se volta:
- Cinderela.
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