quinta-feira, 16 de junho de 2016

Centésima-vigésima-segunda noite – Concerto de Violino

Tássia tocou violino para mim vestindo apenas algumas gotas de Chanel 5 em uma dessas tépidas noites de junho de dois mil e sempre. [Eu como única plateia, um facho de luz no teto direto sobre seus longos cabelos negros como única iluminação]. Sua mão esquerda segurava suave o Mendini de puro pinho e com a outra deslizava o arco como se não ele, mas o próprio mundo estivesse em movimento.

Solfejou pela Partita n. 2 de Johann Sebastian Bach e a bamboleante melancolia setecentista fez conjunto em perfeição com os acordes do corpo de Tássia – as coxas grossas a culminar nos quadris curvilíneos que afinavam na cintura – Tássia toda em curvas, mais que toda mulher. Seguiu o Capricho  n. 1 de Paganini e o nome da canção se coerentizava com os seus caprichos próprios – desde as unhas cobertas de suave vermelho até as pontas do cabelo, em curva absolutamente insólita, existente apenas pela beleza em si.

Como muitas plateias tive o pensamento de jogar-me a seus pés e como nenhuma plateia fiz isso. Beijei-lhe os pés [ela no Concerto em Sol Maior n. 3 de Mozart] e depois os tornozelos, e os joelhos, e quando chegava ao clímax da obra do Mestre de Salzburgo eu me perdia – não no labirinto da grande arte mas nas trevas entre suas coxas.

Tássia tocou violino para mim e [olhos fechados e respiração a pesar] conseguiu não perder nenhuma nota – para mim, que a aplaudi com beijos fundos, cada vez mais.

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