sábado, 18 de junho de 2016

Centésima-vigésima-quarta noite – O poeta e a garota

Dizem que Kurt Tucholsky depois de publicar o Frauen von Freunden [no qual não sem crueldade desancou as esposas de seus amigos] arrependeu-se. Pegou o chapéu no vestíbulo do jornal onde trabalhava – a Cortina do Mundo / Die Weltbühne – trocou duas palavras como o novato Bertolt Brecht e saiu à rua. [O céu de Berlim porejava uma neblina fina].

O poeta desceu a Postdamer Platz [era meia-noite e três minutos e ninguém sabe quem anotou a hora com tamanha precisão], dobrou à direita na Kudamm e se deixou ficar em um café [dos inumeráveis cafés existentes naquele 1925] na Stauffenbergstrasse [que ainda não tinha esse nome], pediu um brasilianischen Kaffee com uma gota de leite [sacrilegamente para um alemão] e se deixou viver. Esqueceu Goethe e a Política, as lembranças de guerra e a eterna briga com o KPD [o partido comunista].

Sentou-se à sua mesa não uma Fräulein [naquela noite quase dadaísta não havia senhoritas louras] mas uma morena [quase como o café]. Os registros guardaram da garota [se é que existiu mesmo] as sobrancelhas, o sorriso e o olhar [que, para o poeta, parecia dissipar a neblina].

Do resto da noite só restaram especulações – de calcinhas baixadas até os tornozelos, saias e camisas aterrissando em pontas de cadeiras e do poeta e de sua namorada a comporem juntos [a entremear gemidos e gritos] um novo soneto que menores de idade jamais poderiam ler.

O resto dos registros se perdeu em algum bombardeio na Segunda Guerra Mundial.

2 comentários:

  1. Um texto cheio ed volúpia e desejo.

    Hoje, gostava de receber a sua visita
    Bjos- Domingo Feliz

    http://deliriosamoresexo.blogspot.pt/

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  2. Mais um fantástico conto erotico

    Beijoos


    Prazeres e Carinhos Sexuais

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