sexta-feira, 3 de junho de 2016

Centésima-décima-sétima noite – Serei sua

Serei sua prostituta, Antônio Marlos – e você será meu cliente - a profissional, garota de programa, cacho, gata de praia, nada-a-mais. Pendurarei brincos enormes – aquelas argolas de ouro falso que roçam no ombro das atrizes de terceira nos pornôs de quarta categoria. Percorrerei sex-shops de fundo de galeria e lojas de lingerie em eterna liquidação na Saara e encontrarei as tanguinhas menores, estampa-de-oncinha, as mais vulgares, sutiãs-com-furinho, de tecido tão fraco de rasgar a qualquer puxada.

Tatuarei dragões, gatinhos ou corações flechados, Antônio Marlos, e os desenhos sequer serão originais. Pintarei o cabelo de dourado-imitação-radical no salão mais barateiro, e uma nota de três dólares em forma de estrela parecerá mais real que essa cor.

Mascarei chicletes, Antônio Marlos, e farei pop com uma bola na sua cara, e pintarei os lábios de um vermelho a enxergar do outro lado do Atlântico. Pegarei bronze artificial e clarearei os pelos das pernas e apertarei tudo em um top e uma microssaia tão justas, Antônio Marlos, que cada saliência da pele aparecerá muito mais do que ao natural.

Falarei palavrões, Antônio Marlos, e bem perto de você para que possa sentir meu Chanel 5 falsificado. Cobrarei um preço não muito alto e ainda aceitarei na hora sua contraoferta dois terços mais baixa. Levá-lo-ei a um motel de esquina e começarei conversa repleta de safadezas, até que você se impaciente e tome posse de sua mercadoria, que serei eu.

Serei sua prostituta, Antônio Marlos, e você será meu cliente.

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