No dia 19 de
junho de 1938 [exatamente às vinte e três horas e cinquenta e sete minutos] Erich
Maria Remarque tomou da caneta-tinteiro Parker 17, quatorze folhas de papel de
carta impressas com seu monograma e escreveu uma carta para Marlene Dietrich.
[Que ninguém
se preocupe com problemas de orçamento – depois de vender um milhão de
exemplares de Nada de Novo na Frente
Ocidental, o escritor não tinha problemas de orçamento].
Esqueceu as
bombas e os ataques de gás – e não foi nenhum deles que o acordou naquela
tépida praia na República Dominicana. Por aquela noite, os nazistas que o
perseguiam e queimaram seus livros deixaram de existir. O veterano de guerra ]e
denunciador dos horrores da mesma] voltou-se [pela vez primeira e talvez única]
para a bela [e talvez única] realidade da vida – voltou-se para o Amor.
E
encontrou-o em sua conterrânea Marlene Dietrich – um amor anguloso, duro, o
oposto da melosidade hollywoodiana.
E [ele mesmo
re-tornado adolescente] escreveu [com a escrita crua e detalhada que o fez rico
e famoso] o que intencionava fazer com ela – desde as investidas em que sua
cabeça pareceria atravessar-lhe o útero e reaparecer pela garganta, até a
posição em que ele procuraria novos caminhos por dentro dela [ela de costas a
dar gritos de partir cristais] até o encerramento com muito mel – um mel alvo
que a alimentaria com gozo.
Escreveu – e
guardou na gaveta. Tomou outro maço de papéis e rabiscou alguma banalidade
sobre como tinha saudades dela, e esta colocou no correio.
De alguma
forma a carta sincera apareceu na primeira edição da coletânea de cartas entre
eles (edições Kiwi, Colônia, 2003), e depois foi retirada.
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