Os
textos eróticos sempre empurram vinhos chateau
alguma coisa, charutos, de preferência algum iate com um
romanticíssimo glacial suíço pela janela do hotel. Ou então
alguma praia imitando cartão postal de Punta Cana. Junte-se a isso
cintas-ligas, um smocking, muita tranquilidade e desnecessidade de
trabalhar – smocking e cintas inevitavelmente empilhadas em algum
canto no momento H.
Neste
momento decido [minha caríssima leitora e meu caríssimo leitor]
democratizar a vontade de fazer aquilo.
Penso
em um casal sem graça. E o mundo é pleno de casais sem graça. Que
tal um mineiro de carvão nas montanhas da Manchúria e sua esposa
consertadora de tratores? Ou algum caçador nas planícies do
Zimbabwe e sua jovem mulher plantadora de inhames? [E ainda falam em
estereótipos].
Decido
por um lenhador no norte da Rússia e sua esposa que trabalha como
secretária na creche da cooperativa. Natacha tem uns quilos a mais e
uma timidez que até a criançada nota, Ivanov é baixo e penou para
conseguir o diploma passar na escola média. As palavras que trocam
no final da tarde são raras e nelas o tempo e uma outra notícia de
família enchem o buraco do silêncio.
Seguem
ritual, cujo ponto de partida ocorre ao se cobrirem com o cobertor de
penas de ganso da Moldávia. Ivanov não fala nem beija: afasta as
coxas de Natacha [as mãos acostumadas a empurrar toras de pinheiro]
e Natacha finge-se surpresa. Ivanov mergulha inteiro e emerge também,
com delicadeza de motoserra. Natacha dá um par de gritos. Ivanov não
beija, sequer sabe dizer eu-te-amo. Ronca em um prazo máximo de
cinco minutos.
Natacha
ajeita o cabelo como pode e sonha com dois anjinhos a voar. Nunca
entendeu por quê.