Hoje acordei em dia de
Maiakovski – mãos capazes de arrebanhar três canecas de vodca,
cabelo untado a querer voar em forma de pássaro, coração a
fabricar metáforas. E tu [quem quer que sejas] serás Lília [Lília,
a amante de Maiakovski].
Eu [Maiakovski]
agarrarei tua mão [minha amante Lília] e sairemos pelas ruas – e
transformaremos as ruas de invivíveis lugares como Teresina ou São
Paulo nas Avenidas de Petersburgo [a velha Petersburgo do tempo dos
czares - babalaicas e tavernas onde lúgubres estudantes personagens
de Dostoievski planejavam mudar o mundo sem ter ideia de como].
Passearemos pela
Perspectiva Nevski [panfletos bolcheviques escondidos em nossos
casacos, pois todos os russos têm casaco], e em algum café a mirar
a Fortaleza Petropavlovski [virando o rosto sempre que passar alguma
patrulha da polícia czarista] tu [o rosto encostado na mão com o
rubro dos lábios a rimar com o mesmo das unhas] me mostrarás o
vestido branco, de grandes bolas negras. Tomaremos café brasileiro
com vodca [seremos russos] com os braços dando voltas um no outro.
E [minha caríssima
Lília] em alguma água-furtada [três janelas a mirar o amanhecer no
rio Neva] tu apoiarás o salto da altura da estratosfera em algum
pufe de abeto siberiano, puxarás o vestido [as grandes bolas negras
a se deformar] mostrando-me toda a extensão do meião de seda
encimado em um fecho que desfarás – pois é isso que as amantes
fazem.
E o resto que faremos
[minha cara Lília] não serão poemas de Maiakovski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário