terça-feira, 25 de outubro de 2016

Centésima-trigésima-nona noite – Serei Maiakovski, serás Lília

Hoje acordei em dia de Maiakovski – mãos capazes de arrebanhar três canecas de vodca, cabelo untado a querer voar em forma de pássaro, coração a fabricar metáforas. E tu [quem quer que sejas] serás Lília [Lília, a amante de Maiakovski].

Eu [Maiakovski] agarrarei tua mão [minha amante Lília] e sairemos pelas ruas – e transformaremos as ruas de invivíveis lugares como Teresina ou São Paulo nas Avenidas de Petersburgo [a velha Petersburgo do tempo dos czares - babalaicas e tavernas onde lúgubres estudantes personagens de Dostoievski planejavam mudar o mundo sem ter ideia de como].

Passearemos pela Perspectiva Nevski [panfletos bolcheviques escondidos em nossos casacos, pois todos os russos têm casaco], e em algum café a mirar a Fortaleza Petropavlovski [virando o rosto sempre que passar alguma patrulha da polícia czarista] tu [o rosto encostado na mão com o rubro dos lábios a rimar com o mesmo das unhas] me mostrarás o vestido branco, de grandes bolas negras. Tomaremos café brasileiro com vodca [seremos russos] com os braços dando voltas um no outro.

E [minha caríssima Lília] em alguma água-furtada [três janelas a mirar o amanhecer no rio Neva] tu apoiarás o salto da altura da estratosfera em algum pufe de abeto siberiano, puxarás o vestido [as grandes bolas negras a se deformar] mostrando-me toda a extensão do meião de seda encimado em um fecho que desfarás – pois é isso que as amantes fazem.

E o resto que faremos [minha cara Lília] não serão poemas de Maiakovski.

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