Durante
setecentos e dezessete dias e três horas e meia dúzia de segundos
persegui Manoela Teresa. Trouxe-lhe flores, fui cavalheiro, abri mais
portas que qualquer concierge
do
Hotel Mediterranée, multipliquei bilhetes com versos
tirados do Google e mandei cartões até no aniversário do seu
canário belga, e Manoela
Teresa não ocasionou nenhum clac a desfazer o fecho da
cinta-liga vermelhona.
Levei-a
bares de beira de morro, shows safadões com algum Wesley, puxei-a a
dançar em funks que repetem continuamente as mesmas cinco palavras
[das quais três com erros de ortografia], chamei-a de tchutchuca,
vestia-a com boné de aba para trás, fizemos coreografias diante das
quais Michael Jackson era um clássico em bailes improvisados ao lado
de paredões cercados de isopores com vodca de preço a rastejar ao
chão de tão barata, e Manoela
Teresa me deu beijinhos de boca fechada e me desejou
boa noite ao bocejar.
Pus óculos
parecidos com os de Sartre, comprei edição francesa das Flores da
Mal, contei-lhe a história de Remarque ou das lendas de algum cantão
suíço, discuti com ela a distinção entre Verdade e
Realidade à luz da filosofia analítica, e Manoela
Teresa não me mostrou a coleção de calcinhas.
E então
voltei-me a ir embora, para meditar minhas mágoas em alguma montanha
próxima a Katmandu ou ir para casa.
E Manoela
Teresa me puxou, convenceu-me a contemplar a paisagem
pela sua janela. E contemplei o por do sol fosco sobre o corpo de
Manoela
Teresa, que dava gritinhos.
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