domingo, 16 de outubro de 2016

Centésima-trigésima noite – Recomecemos, Carla Teresa

Falemos de recomeços, Carla Teresa, e recomecemos.

E não recomecemos do começo [Carla Teresa], mas por trás - eu por trás de você, Carla Teresa.

Você de quatro, uma blusa negra a livrá-la da nudez total – mas não o suficiente para ocultar o ondular dos seios no movimento – eu surfista a a aproveitar as vagas de seu corpo.

Recomecemos, caríssima Carlíssima, e não recomecemos sós. De nosso casto quarto de amor-a-dois percebermos que temos plateia [algumas amigas, depois amigos] e isso só nos afagará o ardor. Em nosso delírio esse punhado se transformará em plateia de teatro, de centenas [você, eu e uma colchonete ridiculamente azul-choque sobre o palco, na posição onde ficaria o piano Steinway] nossos gritos a interpretar uma outra sinfonia.

E perceberemos [minha tão surpresa Carla Teresa] que nos amamos no meio de um estádio [a cama grande mas pequena dentro do círculo central] – estádio cheio, close no seu rosto no telão no início do segundo gozo e a expectativa do geiser a disparar delicados jatos de amor na curva das tuas costas.

E nessa era de reality-shows faremos o nosso, próprio – nosso amor físico e cármico distribuir-se-á por satélite para cento e trinta e um ou cento e trinta e dois milhões [só o Ibope saberá o número exato] – o que a nós [olhos fechados juntos na tomada da câmera em ângulo de corte cima-a-baixo] importará menos que duas folhas secas.

Recomecemos, Carla Teresa, e não recomecemos íntimos – pelo contrário – que o mundo reconheça que recomeçamos.

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