Conheci Roberto Mário na minha sétima sessão na academia de
ginástica – eu fazia um leg press
diagonal que afastava minhas coxas e o olhar do cara-de-quarenta e de bom-moço
caiu bem no meio da bermudinha rosa – por um quinto de segundo, se tanto, mas o
suficiente para que eu notasse.
Isso e outros olhares nos dias seguintes me fizeram esperar a
cantada. Que não veio.
Em vez dela veio Helena Carla. Em dias eu percebia umas
trocas de olhares entre eles pelos cantos. Trocas depois de mirarem a mim. A
vaidade ou outra coisa mais transcendental ainda me fizeram apertar gradativamente
miniblusas e bermudas, sempre que sabia que ia treinar no mesmo horário do casal.
E sempre dava um jeito de treinar beeem pertinho deles e de falar, com um com
outro, ou com os dois, muito perto, de sentir a respiração. Gênero amigona.
Eu fizera umas pesquisas e descobrira que meus novos amigos
eram o que pareciam – um casalzinho pacato com uma filha adolescente fazendo
intercâmbio em algum país rico – e eles livres e soltos e leves aqui. Um
encaixe quase perfeito a uma divorciada sem filhos (eu eu eu!) sem muita
utilidade para a pureza.
Fiz-me de inocente quando Helena Carla [respiração quente que
senti no ombro] me chamou para ver alguma bobagem no ap deles [nem lembro – e nem
me importava]. Trinta e sete minutos depois nós nos beijávamos, eu a sentir o
seu top verdinho que pusera após a academia. Ouvi um barulho que já esperava. Era
o marido, a morder o lábio, a sussurrar se eu me incomodava se ficasse lá
vendo. Deixei a delicadeza de lado e afastei o mais que pude as coxas da minha
amiguinha.
Quem ia ver era eu.
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