sexta-feira, 15 de abril de 2016

Centésima-sexta noite - Fugiremos do mundo, Tássia

Fugiremos do mundo [minha cara Tássia] ou ele fugirá de nós – e o que realmente ocorrerá é questão bizantina que deixo ao talante de inúteis especialistas. Irromperemos [talvez] em uma ilha [uma ilha deserta - oh, esse lugar tão comum dos sonhos românticos e eróticos]. Não falaremos [não falaremos nem mesmo da inutilidade do ato de falar] – ao invés disso ergueremos, exploraremos, brincaremos de escorregador um no outro, não deixaremos caminho por percorrer. Deixaremos marcas de semente e alegria nas ondas da areia finíssima.

E não pensaremos no mundo [minha cara Tássia] e na verdade termos sinceros dúvidas sobre o cujo dito – sua existência para nós consistirá em objeto de extensos colóquios filosóficos aos quais não teremos a menor vontade de assistir.

Covardes [talvez] diante da rudeza da vida [minha linda Tássia] mas não castos, virgens, inocentes ou puros – e resta saber se quem não é nada disso ainda é covarde. As palmeiras nos lembrarão nossos corpos e o que faremos com eles, a espuma das ondas também, idem as nuvens à noite, mais ainda a aguinha fria das fontes. Seremos eternos [Tássia] e eternamente nos entraremos – pois pegos [presos] na eternidade do semissegundo.

Nós o faremos setecentas vezes, e quebraremos recordes para gabarmo-nos [ou faremos uma vez, com a intensidade de setecentas, ou de setecentas mil]. E não haverá essas plateias típicas de ilhas desertas – estrelas cadentes, estrelas do mar e gaivotas brejeiras. Ou haverá – e isso apenas nos fará mais extáticos.

Fugiremos do mundo [minha cara Tássia] ou ele fugirá de nós.

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