Musa de Kpop, tu te chamarás Yura, Hwang
ou Jihae – sorriso de plástico, cintura fina ao infinitésimo, pele lisíssima a
rivalizar com a neve de alguma montanha na fronteira com a Manchúria e, [já que
estamos a falar de montanhas], com a barra de tua microssaia tão alta quanto o Everest,
que não é perto mas fica na Ásia.
E eu serei Jeon, Park ou Kim, que
importa [e que original].
Tu [Musa de Kpop] dançarás num palco
cruzado por refletores e cenário alvíssimo ao lado das outras e ninguém se
lembrará de que a música é eletrônica e a letra faz menos sentido que um canguru
cor-de-rosa [Toda a Filosofia do Kpop se
resume em Eu sou linda, tem muito carinha atrás de mim, você vai ter que me
conquistar – diria Confúcio, e Confúcio nem era coreano]. A cada shot a edição do Music Video te fará mudar de roupa – e aparecerás azul, amarela ou
vermelho-brilho-acrílico. Mudarás de posição a ocupar os espaços do palco a lembrar
dos gritos do coreógrafo no ensaio. E nos intervalos dará 437 autógrafos e
contarás cada meia caloria de cada meia folha de alface.
E no meu palco [no nosso palco –
porta trancada, janela à meia-luz] faremos dupla a nos afastar e enroscar olho,
lábios e tudo e a altura de tua saia não fará diferença [aliás não haverá saia].
E tu te chamarás Yura ou Jihae, e eu
Jeon ou Kim, e quem se importa.
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