domingo, 12 de novembro de 2017

Centésima-septuagésima-quinta noite – Rousseau Narciso

Jean-Jacques Rousseau apaixonou-se por sua prima [na verdade pelas duas primas] em um lugar chamado Bossey [meia dúzia de casas que Deus esqueceu ou que na verdade nunca soube que existia] em alguma tarde de 1720 ou 21, mais tardar. Tinha oito anos e as primas seus doze ou treze, e o futuro filósofo, educador, memorialista etc. [que nunca considerou nenhum desses louvores mundanos mais importante que suas paixões] narrou como as mocinhas se aproximavam dele, braço a roçar no braço, a lhe ler histórias.

Foram os primeiros avatares de jovens e mulheres que lhe atravessaram a vida – e quem lê suas memórias se ataranta ao ver o quão pouco Aristóteles e Agostinho importavam pouco para a vida de Jean-Jacques. [Um beijo lhe valia muito mais que qualquer paixão do intelecto.] A loura Madame de Warens acolheu-o como filho e algo mais – uma paixão esquisita por ela ser mais velha e por ser paixão dividida com outro – em uma forma setecentista de Ménage à trois.

De nobres a serviçais, as paixões do filósofo [a maior parte das quais imaginária] cobriam todos os extratos sócias, em protótipo carnal de democracia. Pulava de uma a outra como quem passeava pelas matas do Ródano [outra paixão sua].

O Grande Amor de Jean-Jacques Rousseau foi Jean-Jacques Rousseau. Essa frase [dita por ninguém] explica muito, ou tudo. Quando uma garota entendeu isso, ele teve filhos com ela [não se casou, pois querer isso era exigir demais do doce Narciso de Genebra].

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