Jean-Jacques Rousseau
apaixonou-se por sua prima [na verdade pelas duas primas] em um lugar chamado
Bossey [meia dúzia de casas que Deus esqueceu ou que na verdade nunca soube que
existia] em alguma tarde de 1720 ou 21, mais tardar. Tinha oito anos e as
primas seus doze ou treze, e o futuro filósofo, educador, memorialista etc.
[que nunca considerou nenhum desses louvores mundanos mais importante que suas
paixões] narrou como as mocinhas se aproximavam dele, braço a roçar no braço, a
lhe ler histórias.
Foram os primeiros avatares de
jovens e mulheres que lhe atravessaram a vida – e quem lê suas memórias se ataranta
ao ver o quão pouco Aristóteles e Agostinho importavam pouco para a vida de
Jean-Jacques. [Um beijo lhe valia muito mais que qualquer paixão do intelecto.]
A loura Madame de Warens acolheu-o como filho e algo mais – uma paixão esquisita
por ela ser mais velha e por ser paixão dividida com outro – em uma forma
setecentista de Ménage à trois.
De nobres a serviçais, as paixões
do filósofo [a maior parte das quais imaginária] cobriam todos os extratos sócias,
em protótipo carnal de democracia. Pulava de uma a outra como quem passeava pelas
matas do Ródano [outra paixão sua].
O Grande Amor de Jean-Jacques Rousseau foi Jean-Jacques
Rousseau. Essa frase [dita por ninguém]
explica muito, ou tudo. Quando uma garota entendeu isso, ele teve filhos com
ela [não se casou, pois querer isso era exigir demais do doce Narciso de
Genebra].
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