Rubén Darío encontrou
Manoela [pouco mais dela sabemos que seu nome, ou talvez nem isso] em uma
tépida tarde num quintal em Manágua, em algum dia lá pelo final do século XIX –
os dois eram vizinhos]. Parentes os flagraram e se escandalizaram [mãos nas bocas
e olhos a esbugalhar] e além desse fato [obviamente com testemunhas] pouco se
sabe o que fizeram antes.
Talvez Rubén tivesse
demorado léguas para abrir a boca [era tímido e temia dizer alguma frase sem
eufonia]. E talvez [a especulação é plausível] Manoela tomasse a iniciativa
[pois era expansiva].
E lhe falou [a mulher] de todos
os picos de montanhas que gostaria e subir e dos lagos em que sonhava navegar,
deste os do Norte da Itália até os encravados nas cordilheiras do Quirguistão. E
depois confessou as épocas em que gostaria de ter vivido [desde um previsível
Antigo Regime antes da Revolução Francesa, até uma pouco esperável época futura,
em um momento em que as verduras pulariam sozinhas da terra para os pratos e no
qual as pessoas seriam andróginas].
Quanto a Rubén, decorou cada
uma das falas dela [serviriam de inspiração para seus livros]. Quando abriu a
boca, disse Sonho com uma poesia acrática,
sem regras.
Os parentes os encontraram
sem nada e abraçados. Surpreenderam-se. Pareciam não saber que estavam assim.
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