sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Centésima-septuagésima noite – Darío, Manoela, e mais nada

Rubén Darío encontrou Manoela [pouco mais dela sabemos que seu nome, ou talvez nem isso] em uma tépida tarde num quintal em Manágua, em algum dia lá pelo final do século XIX – os dois eram vizinhos]. Parentes os flagraram e se escandalizaram [mãos nas bocas e olhos a esbugalhar] e além desse fato [obviamente com testemunhas] pouco se sabe o que fizeram antes.

Talvez Rubén tivesse demorado léguas para abrir a boca [era tímido e temia dizer alguma frase sem eufonia]. E talvez [a especulação é plausível] Manoela tomasse a iniciativa [pois era expansiva].

E lhe falou [a mulher] de todos os picos de montanhas que gostaria e subir e dos lagos em que sonhava navegar, deste os do Norte da Itália até os encravados nas cordilheiras do Quirguistão. E depois confessou as épocas em que gostaria de ter vivido [desde um previsível Antigo Regime antes da Revolução Francesa, até uma pouco esperável época futura, em um momento em que as verduras pulariam sozinhas da terra para os pratos e no qual as pessoas seriam andróginas].

Quanto a Rubén, decorou cada uma das falas dela [serviriam de inspiração para seus livros]. Quando abriu a boca, disse Sonho com uma poesia acrática, sem regras.

Os parentes os encontraram sem nada e abraçados. Surpreenderam-se. Pareciam não saber que estavam assim.

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