Edgar Allan Poe [previsivelmente] apaixonou-se por uma moça numa tela à
óleo pendurada em um quarto de hotel de
náuseas em algum subúrbio de Baltimore em uma tempestuosa noite de novembro em
1840 e só essa frase já contém muitos erros: não era uma tela mas uma litogravura;
não havia tempestade mas manhã de sol torrando; e não era uma moça mas várias.
A Gravura [a qual ele apurou
ser reles imitação de outra, francesa, do tempo de Luís XV, esta por sua vez a
cópia de uma cena em uma parede de Pompeia] retratava três jovens a entreter sete
cavalheiros [e os cabalísticos números três e sete deram voltas na cabeça de
Allan].
Uma delas, na posição dos
pôneis, demostrava todo seu potencial amoroso a entreter dois cavalheiros, um
em cada ponta de seu jovem corpo. Outra punha literalmente mãos à obra [há
sempre pessoas sem medo do trabalho, pensou o contista] em dois companheiros
naquele momento de agrado. A terceira [talvez mais conservadora] coloquiava
sobre um cavalheiro, outros dois a agradar em respeitosa fila.
Edgar Allan Poe [pela vez única]
esqueceu relógios, assassinos venezianos e a Santa Inquisição. Viu-se a si
mesmo naquela cena de vida talvez excessiva. Para afastar-se de pensamentos tão
comuns escreveu mais um poema sobre corvos.
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