sábado, 28 de outubro de 2017

Centésima-sexagésima-sétima noite – Os Amores da Falsa Marlene

Cada dia sem você é solitário e triste estreou em um cinema na rua Wichmanstrasse [não dos melhores da velha Berlim] no dia primeiro de janeiro de 1919 e dificilmente se poderia imaginar pior timing e pior local.

Aparentemente tratava-se de estreia adequadíssima. Jeder Tag ohne dich ist einsam und leer [sendo este o título original] até pelo nome parecia rimar com os tempos – a guerra perdida, a inflação a mostrar os dentes. O filme [no entanto] ao longo de seus poucos sessenta e dois minutos nada tinha da melancolia do seu nome  dos tempos.

O filme se inspira [ou plagia mesmo] o Retrato de Dorian Grey, e conga a história de Lenny, bibliotecária da Escola Média de da cidade de Braunschweig que pintara um retrato de si mesma no dia em que decidira se manter eternamente pura e dedicar sua vida ao pó dos livros. Inevitavelmente o filme se centra não na vida de Lenny mas do seu quadro, a mostrar os amores da jovem mulher, amores dois, a quatro, a um, a uma, de todas as imagináveis maneiras [as cenas da vida de bibliotecária compreensivelmente não atraíram tanto interesse]. Desnecessário dizer que o filme foi censurado antes de três dias.

Uma fantasiosa versão afirma que Lenny era uma alusão a uma jovem Marlene Dietrich – que seria a atriz do filme. O que explicaria o sumiço das fitas, pois ela [depois de célebre] as terá mandado comprar todas. A essa explicação se contrapõe outra, de que o filme era bobo mesmo e por isso ninguém se deu ao trabalho de preservá-lo.

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