Cada dia sem você é solitário e triste estreou em um cinema na rua Wichmanstrasse [não dos melhores da velha Berlim] no dia primeiro
de janeiro de 1919 e dificilmente se poderia imaginar pior timing e pior local.
Aparentemente tratava-se de
estreia adequadíssima. Jeder Tag ohne
dich ist einsam und leer [sendo este o título original] até pelo nome
parecia rimar com os tempos – a guerra perdida, a inflação a mostrar os dentes.
O filme [no entanto] ao longo de seus poucos sessenta e dois minutos nada tinha
da melancolia do seu nome dos tempos.
O filme se inspira [ou
plagia mesmo] o Retrato de Dorian Grey,
e conga a história de Lenny,
bibliotecária da Escola Média de da cidade de Braunschweig que pintara um
retrato de si mesma no dia em que decidira se manter eternamente pura e dedicar
sua vida ao pó dos livros. Inevitavelmente o filme se centra não na vida de
Lenny mas do seu quadro, a mostrar os amores da jovem mulher, amores dois, a
quatro, a um, a uma, de todas as imagináveis maneiras [as cenas da vida de
bibliotecária compreensivelmente não atraíram tanto interesse]. Desnecessário
dizer que o filme foi censurado antes de três dias.
Uma fantasiosa versão afirma
que Lenny era uma alusão a uma jovem
Marlene Dietrich – que seria a atriz do filme. O que explicaria o sumiço das
fitas, pois ela [depois de célebre] as terá mandado comprar todas. A essa explicação
se contrapõe outra, de que o filme era bobo mesmo e por isso ninguém se deu ao
trabalho de preservá-lo.
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