Maria do Egito fugiu de casa
e depois de afundar no deserto desenhou um círculo na areia: não sairei daqui enquanto não falares comigo.
Não era [e sabia que não era] a única peregrina daquele século IV d.C. Planejava
[no entanto] ser a mais teimosa.
Depois três dias as
entranhas se roíam de fome. Depois de sete dias a própria fome pareceu
cansar-se dela.
Inevitavelmente surgiram as
tentações. Primeiro veio a sua mãe [morta havia muito] que lhe ofereceu colo e
sopa. Maria ordenou que o Inimigo fugisse [pois sabia que do inimigo se tratava].
Depois vieram [tola porém perigosamente] negociantes de roupas e perfumes e os
luxos que fazem o devaneio de toda jovem. Maria do Egito fechou os olhos e eles
sumiram.
Veio depois [em um meio-dia
sol a pino] um senhor [acompanhado de seu pai ministro] e lhe ofereceu
segurança, um lar, três filhos e aliança. Maria do Egito balançou – mas sua
boca gritou o não que seu coração abominava.
Finalmente veio um rapaz –
bonito mas nem tanto. Sentou-se numa pedra, não ofereceu joias nem contratos. Ofereceu
[disse] apenas a ele mesmo.
E Maria do Egito enroscou-se
com ele, desgrenhou os cabelos enolados pela poeira e se tornou bicho e mulher.
Isso no seu delírio – afirmam
os sóbrios cronistas Atanásio e Cirilo de Alexandria, que garantem a vitória
sobre a tentação. Uma terceira história, esta anônima, garantia que a tentação
da carne superou as do lar e da família. Por essa história não ficar bem para
uma santa, foi suprimida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário