E a voz de Carlos Gardel o
abandonou pela uma hora e trinta da manhã de 13 de março de 1920 no palco do
Café Belgrano, na esquina da Florida com Nove de Julho, e ninguém sabe quem anotou
os detalhes com tanta precisão [talvez algum bacana que trocasse o dia pela noite e viciado em apostas de boxe
no Luna Park]. Carlos cantava o terceiro tango da noite, uma versão adulterada e
letrada de La Cumparsita e a nota Fá
Maior se recusou a sair.
A plateia não o vaiou [não porque
não merecesse mas por puro constrangimento] o que tornou o silêncio ainda mais
pesado. Saiu à rua decidido a se tornar contador ou comerciante de peixe.
Foi então que ela lhe pediu
um cigarro. A borda de seu vestido tinha plumas, usava cabelo curto e uma
piteira [afinal era Buenos Aires, de madrugada, nos anos 20]. Ele lhe perguntou
seu nome, ela disse que escolhesse um – e Carlos a denominou Eva, depois Evita –
nada a ver com a futura ídola de três décadas depois mas a coincidência não
deixa de ter seus especuladores.
Evita levou Carlos à calle Corrientes, 348, segundo piso. Ela
tocou um tango na vitrola e tirou o arranjo do cabelo. Foi a primeira coisa que
ela tirou, das muitas, e ao final restou, diante de Carlos, apenas Evita e seu
delicado perfume de rosas, talvez um gelatti.
Anos depois Gardel cantaria
aquele momento à meia-luz. A única diferença para a letra da canção é que havia
mesmo um gato. Que dormiu por todo o momento, felizmente.
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