segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Centésima-quinquagésima-sétima noite – Cinderela, nua

Um manuscrito atribuído a Borges, depois a algum imitador dele, e finalmente a um comitê de falsários homiziado na rua 49 em Manhattan afirma ser o continuador da história clássica, hoje tida como de fadas.

Segundo tal documento [de veracidade contestada mas não sem colorido e algum interesse], os pudicos irmãos Grimm [e é o próprio manuscrito que os designa como pudicos] sabiam muito bem que a história da camponesa que casa com o filho do Rei [ou seja, a história de Cinderela] não acabava com o casamento e o cavalo branco no qual o príncipe a levava para o castelo.

De fato, o tal papel descrevia com detalhes de miniaturista a primeira noite da jovem Cinderela [sendo impensável uma princesa de conto de fadas ter experiência anterior], incluindo até os decibéis dos suspiros do jovem casal, o número e a força das investidas, a sensação do atrito entre as peles nuas e até a nuance da cor dos seios da moça.

Horrorizados, embora já acostumados ao cruel realismo das histórias de camponeses, os irmãos terminaram a história logo quando ela se tornava mais interessante, segundo o manuscrito. E até essa parte foi [previsivelmente] suprimida.

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