Um manuscrito atribuído a
Borges, depois a algum imitador dele, e finalmente a um comitê de falsários
homiziado na rua 49 em Manhattan afirma ser o continuador da história clássica,
hoje tida como de fadas.
Segundo tal documento [de
veracidade contestada mas não sem colorido e algum interesse], os pudicos
irmãos Grimm [e é o próprio manuscrito que os designa como pudicos] sabiam
muito bem que a história da camponesa que casa com o filho do Rei [ou seja, a
história de Cinderela] não acabava com o casamento e o cavalo branco no qual o
príncipe a levava para o castelo.
De fato, o tal papel
descrevia com detalhes de miniaturista a primeira noite da jovem Cinderela
[sendo impensável uma princesa de conto de fadas ter experiência anterior],
incluindo até os decibéis dos suspiros do jovem casal, o número e a força das
investidas, a sensação do atrito entre as peles nuas e até a nuance da cor dos
seios da moça.
Horrorizados, embora já
acostumados ao cruel realismo das histórias de camponeses, os irmãos terminaram
a história logo quando ela se tornava mais interessante, segundo o manuscrito.
E até essa parte foi [previsivelmente] suprimida.
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