Na Tragédia grega ninguém
faz nada – ou, nada de mais êxtase. Há sangue, punhaladas, olhos arrancados,
esfinges que falam (e pior, falam frases idiotas que o dramaturgo e o
expectador insistem em levar a sério) mas nada mais. Nada mais de suspiros,
palavras in decentes e olhos revirados – que Ésquilo parecia desconhecer que
existiam, porém sem as quais não existiria a própria Tragédia, pois sem gente
não há Tragédia, e sem essas coisas não haveria gente.
Nem Eurípedes nem Sófocles
nem ninguém pensou nas aventuras possivelmente mais livres de uma Jocasta
madura porém com o tempero da experiência. Lisístatra talvez – ela dificilmente
seria aceita em um convento católico – o que se resume a questão meramente teórica,
pois na época inexistiam os conventos católicos. E além disso, Lisístatra é
estrela de comédia – o que foge do escopo.
O grande desafio [que nem
mesmo a trinca de dramaturgos gregos aceitou encarar] seria transformar uma adolescente
da cidade de Tebas filha da melhor família em uma deusa do prazer. Em outras
palavras, fazer de Antígona um personagem erótico.
Ou ao menos fazer com que a
garota largasse essa sua obsessão com cemitérios, enterros, pais cegos e irmãos
mortos e visse que a vida existe e que pode dar muito prazer a dois.
De Ésquilo só sobraram sete
tragédias, dos outros não muito mais. Imagine-se uma em que um guapo mancebo
levaria Antígona e conseguiria lhe tirar a túnica. Algo pouco provável pois a
cara de tragédia grega da moça quebraria o clima.
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