Hoje [e talvez só hoje] serás
Cleópatra. E eu [apenas pelo dia de hoje, ou então mais] serei Júlio César.
Não, não o serei [e nem mesmo
Marco Antônio]: não gosto de generais romanos – na verdade nem de generais como
um todo. Serei um escravo [o teu escravo]: algum Diomedes louro da Trácia ou
Nicômaco amorenado da Numídia. Existirei para servi-te [minha cara Cleópatra em
substituição] – e ao fazê-lo, servir-me de ti – um segredo que nós dois
saberemos sem o dizer.
E não vestirei aqueles ridículos
panos de filme histórico de Hollywood [ou talvez vista, sei lá, apenas para tirá-los
depois]. Vou trazer-te uvas [que você comerá com as mãos por cima do rosto, em
um daquelas divãs tão ridículos que duvido que os romanos de verdade os utilizassem].
Beijarei teus pés e vou te dar banho [rainhas da antiguidade não tinha vergonha
dos escravos, pois, afinal, eram apenas escravos]. Vou ler Catulo ou farei Karoakê
dos Beatles para te arrancar do tédio.
E depois vou te defender com
minha espada [nada metafórico, é só a arma de verdade contra algum bando de bárbaros
da Bitínia]. Ou talvez seja metafórico mesmo, e depois de usá-la colocar-te-ei
para dormir.
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