sábado, 14 de outubro de 2017

Centésima-quinquagésima-sexta noite – Serás Cleópatra

Hoje [e talvez só hoje] serás Cleópatra. E eu [apenas pelo dia de hoje, ou então mais] serei Júlio César.

Não, não o serei [e nem mesmo Marco Antônio]: não gosto de generais romanos – na verdade nem de generais como um todo. Serei um escravo [o teu escravo]: algum Diomedes louro da Trácia ou Nicômaco amorenado da Numídia. Existirei para servi-te [minha cara Cleópatra em substituição] – e ao fazê-lo, servir-me de ti – um segredo que nós dois saberemos sem o dizer.

E não vestirei aqueles ridículos panos de filme histórico de Hollywood [ou talvez vista, sei lá, apenas para tirá-los depois]. Vou trazer-te uvas [que você comerá com as mãos por cima do rosto, em um daquelas divãs tão ridículos que duvido que os romanos de verdade os utilizassem]. Beijarei teus pés e vou te dar banho [rainhas da antiguidade não tinha vergonha dos escravos, pois, afinal, eram apenas escravos]. Vou ler Catulo ou farei Karoakê dos Beatles para te arrancar do tédio.


E depois vou te defender com minha espada [nada metafórico, é só a arma de verdade contra algum bando de bárbaros da Bitínia]. Ou talvez seja metafórico mesmo, e depois de usá-la colocar-te-ei para dormir.

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