Da obra duplamente mal denominada
Os Amores Secretos de Leonídia somente
um exemplar [em estado deplorável] se encontrou em um canto do Sanatório de Salvador
em 1931. Compreensível pois se trata de manuscrito.
Duplamente mal denominada: primeiro
não é de Amor que se trata, ou ao menos na acepção comum e melosa do termo. Segundo,
não se trata de amores mas de um só.
Leonídia amou Antônio Frederico
muito antes dele escrever o Navio Negreiro e as pessoas o chamarem um tanto
lusitanamente pelo seus sobrenomes de Castro Alves. Um amor fraquinho, não
consumado, do qual ela só teve a honra duvidosa de segurar o poeta nos braços
enquanto ele partia do mundo.
Enlouqueceu depois, dizem que
de saudades do que não aconteceu.
O [anônimo ou anônima] autor
desta obra [tanto ficção como projeto de vida] se propôs a escrever o que a jovem
deveria ter feito para manter a sanidade.
Começa com a fuga desta do
engenho, acompanhada de uma criada, e da sua chegada ao quarto de estudante do
poeta no Pelourinho.
E continua descrevendo cada
uma das posições, a troca das mesmas, o motivo de cada um dos suspiros, a
diferença de um milímetro no diâmetro entre os bicos da jovem, que o detalhista
poeta não deixou de apreciar.
E terminava
[previsivelmente] com a gravidez da moça, de um filho que daria sentido a sua
vida.
Lamentavelmente [diz o autor
ou autora com comoventes boas intenções] Leonídia foi uma boa moça, e morreu em
um hospício.
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