domingo, 14 de fevereiro de 2016

Quadragésima-quinta noite – Deita e abre as pernas

- Tira toda a roupa, deita e abre as pernas.

Marco Aurélio me disse isso. Não o Imperador Romano, mas o meu namorado. Embora naquele momento tenha agido como supremo mandatário de grande império. Não esgoelou-se, não esbugalhou olhos. Disse. E foi tirar a gravata na toalete.

Pensei em um milhão e meio de respostas e atitudes. Mas a ação que tomei [aliás que minha mão esquerda tomou] foi puxar o laço da gola do vaporoso vestido de estampa verde. Esse foi sinal para que toda peça de roupa que envolvia meu corpo se fosse descolando dele e formando uma obediente pilhinha na poltrona lilás: o vestido, a calcinha-tanga branquíssima, o sutiã esmeralda sem nenhuma dobra no topo. E os brincos e o colar com pedra de alabastro a formar a cereja daquele bolo.

Olhei-me no espelho sem olhar crítico para celulites ou nada: era isso que ele queria, era isso que ele teria. Como se não houvesse nada mais a fazer deitei-me na cama de tamanho bem razoável e afastei as coxas o máximo que as aulas de alongamento me permitiram. O rapaz dera as ordens e nem Freud explicaria como eu achava que nada havia a fazer a não ser obedecê-las.

E nem o chatíssimo médico vienense e seus discípulos em conjunto explicariam como ali nua de pernas abertas eu me sentia frágil e feliz.  Não tinha ânsia nem expectativa – o que deveria acontecer aconteceria. E senti toda minha vida convergindo para aquele momento, a suave brisa do ar condicionado a me beijar os pelos das pernas.

Tive vontade de gritar de felicidade e gritei – naquele momento senti o primeiro impacto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário