- Tira toda a roupa, deita e abre as pernas.
Marco
Aurélio me disse isso. Não o Imperador Romano, mas o meu namorado. Embora
naquele momento tenha agido como supremo mandatário de grande império. Não esgoelou-se,
não esbugalhou olhos. Disse. E foi tirar a gravata na toalete.
Pensei
em um milhão e meio de respostas e atitudes. Mas a ação que tomei [aliás que
minha mão esquerda tomou] foi puxar o laço da gola do vaporoso vestido de
estampa verde. Esse foi sinal para que toda peça de roupa que envolvia meu
corpo se fosse descolando dele e formando uma obediente pilhinha na poltrona lilás:
o vestido, a calcinha-tanga branquíssima, o sutiã esmeralda sem nenhuma dobra no
topo. E os brincos e o colar com pedra de alabastro a formar a cereja daquele
bolo.
Olhei-me
no espelho sem olhar crítico para celulites ou nada: era isso que ele queria,
era isso que ele teria. Como se não houvesse nada mais a fazer deitei-me na
cama de tamanho bem razoável e afastei as coxas o máximo que as aulas de
alongamento me permitiram. O rapaz dera as ordens e nem Freud explicaria como
eu achava que nada havia a fazer a não ser obedecê-las.
E
nem o chatíssimo médico vienense e seus discípulos em conjunto explicariam como
ali nua de pernas abertas eu me sentia frágil e feliz. Não tinha ânsia nem
expectativa – o que deveria acontecer aconteceria. E senti toda minha vida convergindo
para aquele momento, a suave brisa do ar condicionado a me beijar os pelos das
pernas.
Tive
vontade de gritar de felicidade e gritei – naquele momento senti o primeiro impacto.
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