domingo, 7 de fevereiro de 2016

Trigésima-oitava noite – Vou mesmo fazer isso?

- Vou mesmo fazer isso? – perguntou-se Ana Leila, mordendo o lábio inferior, assustadiçazinha - em sua volta a penumbra, duas poltronas cor abóbora-berrante, três pufes e a faixa negra muito bem podada de exatos três centímetros de largura entre as coxas de Maria Eduarda, a dois dedos de distância do seu nariz. Como fundo musical, apenas a pesada respiração da amiga – Ana Leila a vestir uma delicada tanguinha rosa-pálido quase a transparecer – Maria Eduarda vestia o Chanel 5 e dois anéis na mão esquerda.

[Quase] todo doutorado tem uma charmosérrima professora, óculos-de-intelectual, pós em Berlim, ex-marido chato já esquecido e fama de simpática. E também uma aluna meio-tímida, de seus vinte e poucos, vinda de cidade menor, apartamentinho alugado perto do campus e deslumbre diante de tanto filme iraniano e abaixo-assinado a se engajar. E também um barzinho onde as duas meio por acaso meio por destino se encontrarão.

No encontro Ana Leila nada percebeu demais – apenas um ou outro gesto carinhoso da amiga de passar-lhe a as costas dos dedos no pedaço de coxa que emergia da saia jeans. Além da conversa sobre novas experiências e horizontes.

Dessa conversa de alguma forma vieram ao quarto-e-sala da professora, ao Besa-me no mp3 a as duas a dançar nuas sobre o tapete Nain. Eduarda não a beijava – deixando claro que não havia amor ali. Em um último momento de tolinho pudor Ana Leila se perguntou Vou mesmo fazer isso? – e sua língua respondeu afundando no corpo da amiga, que deu uivo-de-lobinha. 

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