- Vou mesmo fazer isso? – perguntou-se
Ana Leila, mordendo o lábio inferior, assustadiçazinha - em sua volta a penumbra,
duas poltronas cor abóbora-berrante, três pufes e a faixa negra muito bem
podada de exatos três centímetros de largura entre as coxas de Maria Eduarda, a
dois dedos de distância do seu nariz. Como fundo musical, apenas a pesada
respiração da amiga – Ana Leila a vestir uma delicada tanguinha rosa-pálido
quase a transparecer – Maria Eduarda vestia o Chanel 5 e dois anéis na mão esquerda.
[Quase]
todo doutorado tem uma charmosérrima professora, óculos-de-intelectual, pós em
Berlim, ex-marido chato já esquecido e fama de simpática. E também uma aluna
meio-tímida, de seus vinte e poucos, vinda de cidade menor, apartamentinho
alugado perto do campus e deslumbre diante de tanto filme iraniano e abaixo-assinado
a se engajar. E também um barzinho onde as duas meio por acaso meio por destino
se encontrarão.
No
encontro Ana Leila nada percebeu demais – apenas um ou outro gesto carinhoso da
amiga de passar-lhe a as costas dos dedos no pedaço de coxa que emergia da saia
jeans. Além da conversa sobre novas experiências
e horizontes.
Dessa
conversa de alguma forma vieram ao quarto-e-sala da professora, ao Besa-me no mp3 a as duas a dançar nuas sobre
o tapete Nain. Eduarda não a beijava –
deixando claro que não havia amor ali. Em um último momento de tolinho pudor
Ana Leila se perguntou Vou mesmo fazer isso?
– e sua língua respondeu afundando no corpo da amiga, que deu uivo-de-lobinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário