sábado, 6 de fevereiro de 2016

Trigésima-sétima noite – Cruel

Usei o corpo de um rapaz chamado José Roberto e disso não tenho nenhum poucochinho de dor na consciência. [Na verdade, só guardei o nome dele porque é o mesmo do vizinho de um primo]. Três meses e dezessete dias depois que saiu a sentença do divórcio vi-me eu, livríssima e soltíssima, depois de quinze anos de casamento chato no qual entrei zerada e de branco e levei belos chifres. E anjinhos ou diabinhos me puseram naquele dia em uma mesa de bar depois do trabalho com uma amiga conhecida e muita gente desconhecida.

Os ditos diabinhos fizeram com que compromissos ou sono tirassem um a um da mesa, e fiquei sozinha com um rapaz que noventa minutos antes não sabia que existia. Nada me chamara a atenção nele, até que levantou e notei o volume sob sua bermuda. Enquanto estava fora, coração aos pulos, peguei sua carteira e saquei sua identidade, de-maior. Voltou, e uma dúzia de minutos de conversa me deu a informação relevante: tímido, estudante, sem amigos, do interior, mal conhecia ninguém na mesa. Maquiavel dentro de mim pensou A Vítima Perfeita. E antes que eu mesma engendrasse plano, minha mão já deslizara pelo meu decote, afastando-o por um segundo, o suficiente para ninguém mais ver naquele cantinho mas o bastante para que os olhos dele duplicassem de tamanho.

E foi em um lugar com o nome idiota de Paradise´s Motel que comi um jovem chamado José Roberto. Plastifiquei-o, troquei de posição e fui meia dúzia de vezes perto do paraíso. Nem sei das consequências psicológicas que isso teve para um rapaz quieto. Cruel, não?

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