sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quinquagésima noite – Sejamos solitários, Helena Maria

Sejamos solitários, Helena Maria, e não sejamos infelizes. Olharemos um na íris do outro e não faremos promessas, nem metade delas. Futuro [Helena Maria] para nós seja uma estranha palavra em caracteres escritos em barro de uma língua esquecida de uma civilização que nenhum arqueólogo se ocupou em desenterrar. E que a palavra agora, Helena Maria, para nós também inexista – ocupados que estaremos em vivê-la.

Fôssemos muito jovens, Helena Maria, nós nos convidaríamos para um sorvete duas bolas de baunilha e maracujá – mas não somos muito jovens. Deixaremos explícito que o interesse de cada um de nós reside entre as pernas do outro – e quanto a mim, também no que esconde o teu vaporoso e caríssimo sutiã Victoria´s.

Tu me dirás [Helena Maria] com todos os fonemas a mais doce das declarações do [inexistente] amor Eu te ofereço minha vagina e eu te concederei o mundo [talvez nem tanto o mundo] mas o suficiente para preenchê-la [plena].

Nós nos abraçaremos [Helena Maria] e um quartinho seria para nós suficiente – não porque tenhamos medo do universo mas porque ele [sem necessidade de apocalipse global] teria [de súbito] teria perdido qualquer relevância que um dia pudesse ter tido. E não somaremos tolas tecnicalidades, quantas entradas, saídas e resultados do exercício – não faremos contabilidade entre lençóis. Sairemos a cantarolar a velha canção solidão a dois, de dia faz calor, depois faz frio.

E seremos solitários, Helena Maria, e não seremos infelizes.

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