segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Quadragésima-sexta noite – Mete, vagabundo

- Vagabundo. Ordinário. Só serve para isso.

Ele por cima, ela embaixo. Tudo na mais rigorosíssima partitura. Ele achava que a comia. Até abrirem a porta do quarto da pousadinha. Até ele se deitar em cima – com um medo [talvez ingênuo] de machucá-la. Ela disparou à queima-roupa uma rajada de palavras.

- Mete, cachorro. Soca, pedaço de lixo.

E deu-lhe uma chave de pernas que dariam a ele trabalho de se livrar – e os olhos reviravam quase como filme de terror de terceira [ele sem ter nada a ver pensou]. A cada segundo que ele perigava perder a concentração ela lhe estapeava a coxa nua.

- Vai, seu puto. Não para.

O rapaz continuou o trabalho e o falo a entrar e sair da faixa perfeitamente negra entre as coxas da mulher lhe deu a impressão de que tirando aquele pedaço dele, o resto era inútil ali – exceto talvez a dupla pequena redondeza entre suas coxas, cujo choque ritmado contra o corpo dela também era pela mulher celebrado.

- Não vale nada, seu gigolô. Pedaço de estrume. Mais duro.

Sentiu-se quase estúpido por se achar insultado. Tinha vontade de reparar seu orgulho dizendo que era muito mais que um corpo, e mais ainda que um pedaço de carne em forma crescível e alongada para provocar prazer a ela: era um jovem trabalhador que de vez em quando até arranhava um violão.

Era o que pensou. Mas continuou a fazer o trabalho dele requerido. Ela lhe estapeou de novo a coxa.

- Mete, vagabundo. Só serve para isso.

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