domingo, 10 de janeiro de 2016

Décima Noite – Plural

- Vamos a três?
E as mãos dela escorregam na mesa do barzinho em busca das deles. Que gelaram.
Ex-colegas da pós, encontro-para-saudades, todos pouco depois dos trinta, um separado, ela também, outro solteiro, empregos até razoáveis. Um par de coquetéis na cabeça com cabeça de cada, sem esquecer o pouquinho de vodca. Muita conversa mole, fofoca, as recordações aos poucos morrendo e ela como quem pede copo d´água faz a pergunta fatalíssima. Os dois homens se olharam rápidos, e se tivessem combinado não teriam tomado o gole adicional com maior sincronia.
A mesma sincronia com que ela deslizou a calcinha-tanga não pouco transparente do hotelzinho intimista-porém-classudo, com uma tola decoração estilo mexicano-falso. Calma como Bruce Lee se colocou de quatro, dando aos dois a esplêndida visão da faixa negra como graúna entre suas coxas. Os cavalheiros, um a vestir apenas uma minúscula tatuagem adolescente perto da orelha e o outro em uma ridícula cueca azul-clarinho, obedeceram bons meninos ao gesto dela em direção a dois envelopes brancos com circulozinhos melados dentro.
- Você, pela frente.
E envolveu com os lábios de um batom glitter de fosforescência quase bege dois terços do amigo, enquanto o outro cavalheiro brilhante pela tensão e pela borracha desapareceu quase inteiro entre os pelos negros muito suaves.

- Depois, troca – disse ela.

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