sábado, 2 de janeiro de 2016

Segunda Noite – Leiderejane e seu Oliveira (I)

(Marcel) ---- > Quer dizer uma história de classe?

(Gilberte) - > Não. Quero dizer uma história sem classe.
---- > Você é uma mulher de classe.
-> Por isso quero uma história sem nenhuma. Vai, começa.
---- > “Se eu tivesse meu caminho, Gilberte, você não se chamaria Gilberte. Você se chamaria, digamos, Mariana? Ângela?”
- > Que nada, classudo demais. Que tal Mariúrsula? Ou Leiderejane? E para evitar grilos ou grelos, vamos colocar nossa Leiderejane com vinte e um aninhos?
---- > “Tá. Você, Leiderejane, vinte e um aninhos, mora longe, Leiderejane. Beeeem longe. Mais longe que a última conexão do ônibus. E tem os cabelos muito pretos estirados na cabeleireira baratinha da esquina.”
---- > Esqueceu o shortinho curto apertado e o bumbum durinho. E a blusinha sem sutiã.
- > Também isso. E como sempre acontece beeem longe, tem um dono de mistura de boteco, mercearia e armarinho, flâmula do Vasco e anúncio de cerveja de quinta.
- > Huumm, estou a gostar. E como se chama ele?
---- > Seu Oliveira. Seu Oliveira é barrigudo e careca. E passou há pouco dos sessenta. Sua mulher o abandonou para viver na Bahia com um caminhoneiro vinte anos mais novo.
- > Deus, Seu Oliveira é o homem dos meus sonhos. Suponho que ele seja o milionário do lugar.
---- > Exato. E nossa Leiderejane gosta muuuuuito de esmaltes de unha, um por dia, se pudesse. Além das tinturas para cabelo que fosforizam ao olhar. E o pobre Seu Oliveira está na secura há seis meses e dezessete dias.

- > Tenho que ir. O menino chora. Exatas cinco da manhã.

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