(Marcel) ----
> Quer dizer uma história de classe?
(Gilberte) - > Não. Quero dizer uma
história sem classe.
---- > Você é uma mulher de classe.
-> Por
isso quero uma história sem nenhuma. Vai, começa.
---- > “Se
eu tivesse meu caminho, Gilberte, você não se chamaria Gilberte. Você se
chamaria, digamos, Mariana? Ângela?”
- > Que
nada, classudo demais. Que tal Mariúrsula? Ou Leiderejane? E para evitar grilos
ou grelos, vamos colocar nossa Leiderejane com vinte e um aninhos?
---- >
“Tá. Você, Leiderejane, vinte e um aninhos, mora longe, Leiderejane. Beeeem
longe. Mais longe que a última conexão do ônibus. E tem os cabelos muito pretos
estirados na cabeleireira baratinha da esquina.”
---- >
Esqueceu o shortinho curto apertado e o bumbum durinho. E a blusinha sem sutiã.
- > Também
isso. E como sempre acontece beeem longe, tem um dono de mistura de boteco,
mercearia e armarinho, flâmula do Vasco e anúncio de cerveja de quinta.
- > Huumm,
estou a gostar. E como se chama ele?
---- > Seu
Oliveira. Seu Oliveira é barrigudo e careca. E passou há pouco dos sessenta. Sua
mulher o abandonou para viver na Bahia com um caminhoneiro vinte anos mais
novo.
- > Deus, Seu
Oliveira é o homem dos meus sonhos. Suponho que ele seja o milionário do lugar.
---- >
Exato. E nossa Leiderejane gosta muuuuuito de esmaltes de unha, um por dia, se
pudesse. Além das tinturas para cabelo que fosforizam ao olhar. E o pobre Seu
Oliveira está na secura há seis meses e dezessete dias.
- > Tenho
que ir. O menino chora. Exatas cinco da manhã.
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