Soraia não me amava e eu já percebera seus cabelos de caracóis
muito negros e o contraste de bronzeado na marca de sutiã nas suas costas, mas
nunca tão de perto [junto com o cheiro do seu Chanel 5] como naquela noite de fim
de março em que eu dava estocadas muito firmes e plastificadas na minha amiga-colega
um ano na frente no doutorado.
Tomávamos coquetéis Alexander
[talvez com uma quantidade sobeja de vodca] com amigos intelectuaizinhos em bar
idem, na PUC perto. Os amigos se foram rareando – de cinco para três, de três para
um, e afinal ficamos só nós dois. A quantidade de Alexanders teve sentido oposto, e aumentou de dois para cinco para
sete. Soraia [óculos grandes e olhos negros] me perguntou se eu não queria de lhe
mostrar minha coleção de vinis. Eu disse que não tinha nenhum disco de vinil. Perguntou
então se não era coleção de CDs. Eu disse que também não tinha nenhum. Então me
puxou pela mão meio com pressa e meio com raiva de minha sesquipedal tolice.
Fiquei quase decepcionado com a calcinha bege e não muito pequena
e recordista de sem-graça da minha amiga, o que foi vivamente compensado pelos
magníficos pelinhos [surpreendentemente] claros que saltaram para minha visão e
vida por entre suas coxas quando ela se colocou, mãos a se apoiar no colchão
cor damasco.
Movemo-nos e gememo-nos, e a palavra amor parecia para nós tão estranha como um verbo no tempo futuro de
algum dialeto do planeta Marte. E aquele momento [para mim e para nós] era único,
vivido quando eu contemplava os cabelos negros e as costas macias de minha
colega de doutorado.
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