Sou
ciumenta [nunca dividiria Marlos Roberto com ninguém] e tenho oculta vocação
para atriz. Descobri esses dois fatores naquela noite em que saí com Marlos
Roberto e minhas amigas Lenilda e Neila e os números meia e nove pareciam nos
perseguir: no nome do bar [69 beers ou parecida coisa], no preço das batatas fritas
e até nos sete cálices de vinho que entornamos, dos quais um derramou um pouquinho.
Foram
esses vinhos que nos subiram à cabeça e lá me deram ideia – que tal passarmos o
resto da noite em um motelzinho? Deixei firme que só eu faria algo com Marlos
Roberto – o resto seria torcida.
E minhas
amigas constituíram boa a torcida – a assistir o espetáculo - em pouco eu e meu
noivamante servíamos de cobertor um para o outro – ele cobertor de baixo eu cobertor
de cima – ele a fazer explorações com o nariz entre minhas coxas – eu a
agasalhar seu falo entre meus lábios de batom gloss red.
E do
palco eu [atriz] dava olhadelas à plateia. Em um primeiro momento minhas amigas
riam e os olhos duplicavam de tamanho e brilho. Depois, a mão de Lenilda
alisava a coxa de Neila, que dava o troco acariciando o pescoço da outra. Depois
ainda o sutiã da minha amiga Lenilda já mandara lembranças, e pude apreciar a
belíssima cor verde-turquesa da calcinha de Neila. Calcinha essa que em instantes
desaparecia, assim como qualquer pano sobre o corpo de Lenilda, e minhas duas amigas
[cachorrinhas famintas] lambiam-se sofregamente uma à outra.
Concluí
que [não sem alguma crueldade] eu eletrizara minhas amigas, e meu ciúme as forçara
a se consolarem como podiam. Foi assim que fizemos a conta 138 = duas vezes 69.
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