quarta-feira, 16 de março de 2016

Septuagésima-sexta noite – A última noite de Pompeia

Dizem [e talvez não digam sem razão] que nos últimos momentos de Pompéia [ou talvez Constantinopla no dia da queda, ou Pearl Harbor na noite do ataque] um grupo [vendo seu mundo em iminente desabamento] decidiram se dar uma última festa.

A densidade no tempo pesava sobre eles [pois os momentos, sabiam, podiam ser os últimos]. No entanto, isso [em vez de lançá-los em preocupações sobre o futuro ou idealizações do que passou] os encharcou na imensidade do presente. Cada um [mulheres e homens] pensou como viver os próximos instantes, sempre únicos.

Se a pergunta foi individual, a resposta foi coletiva: sem combinarem, sedas deslizaram, cálices de champanhe [ou vinho] se encheram, falos muito rígidos surgiram acompanhados por triângulos macios e peludos entre coxas femininas, coadjuvados por seios fartos ou pequenos, morenos ou róseos, e homens e mulheres ou mulheres e mulheres se procuraram, desrespeitando a matemática de que tal encontro só deveria se realizar em pares.

Inusitado circo, cavaleiras e engolidoras de espadas misturavam-se a carruagens de gente – gente a respirar, lamber e gritar em êxtase e disparar cálidos jatos brancos sobre macios ventres e nádegas [lá fora a guerra ou a peste ou o terremoto grassavam].

E vivendo o presente [em momento por demais sublime para ganhar o tolo nome de orgia] aquele pedaço da Humanidade derrotou a desgraça [eterna habitante do ontem ou do amanhã] vivendo a eternidade do instante agora.

Um comentário:

  1. Naquele tempo nas festas/orgias penso que não havia champanhe. Havia sim vinho que em jarros de barro era por esses bebido depois de partirem os copos também de barro. Haviam os copos de metal que eram para suas altezas os chefes do reino.

    Gostei do conto. Li com toda a atenção e curiosidade
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    Deixo uma carícia

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