quarta-feira, 2 de março de 2016

Sexagésima-segunda noite – Três histórias de Loba – História de não-amor

- > [Gilberte] Posso baixar o nível?

---- > [Marcelo] Deve. Vai.

“Marilene e José Roberto não se amavam. Apesar disso ou por causa, suas epidermes se colavam à perfeição naquelas vinte e duas horas e quarenta e cinco minutos daquele dia dois de março. Posição conservadora – José Roberto em cima de Marilene, esta a fazer campeonato de afastar os tornozelos, como ginasta. A cabeça levemente arroxeada e de diâmetro incomum parecia a Marilene cutucar-lhe a entrada do útero, os bagos como um doce metrônomo marcavam com o ritmo de suas pancadas aquela canção sem melodia – apenas com uma letra de gemidos.

Não se amavam e consciente e entusiasmadamente não se beijavam – seus rostos roçavam leves no movimento, as respirações a se misturar – cada um empenhado em extrair do corpo daquela outra pessoa o máximo de prazer. Marilene desfilava todos os palavrões que achava que um dia esquecera, José Roberto enterrava o nariz nos cabelos encaracolados, que lhe pareceram um aroma de cânfora.

Cada um disposto a fazer valer o máximo possível o momento, Marilene fez o impossível ao achar espaço entre os dois corpos grudados e a sua mão encontrou as duas delicadas esferas entre as coxas de José Roberto, a apertá-las até quase arrebentar. José Roberto dobrou-se como ginasta e conseguiu fazer desaparecer entre os lábios um dos bicos rosados de Marilene, também sem muito espaço para a delicadeza. Terminaram também conservadoramente, o homem a desenhar faixas brancas na barriga e seios da mulher.

Terminaram elogiando-se de quente e de garanhão – numa declaração de amor pós-moderna.

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